sexta-feira, 20 de julho de 2012

A pé e de coração leve
enveredo pela estrada aberta.
Saudável, livre, o mundo à minha frente.
À minha frente o longo atalho pardo
levando-me aonde eu queira.
Daqui em diante não peço mais boa sorte,
boa sorte sou eu.
Daqui em diante não lamento mais,
não transfiro, não careço de nada.
Nada de queixas por trás das portas
de bibliotecas, de tristes críticas.
Forte e contente vou eu
pela estrada aberta.

walt whitman
 
Em 12 de junho de 1994 aconteceu, se não a maior, uma das mais significativas realizações da história da BSGI em Ribeirão Preto. Foi o dia em que, no Teatro de Arena, comemoramos 30 anos de atividades.

A ambição era, guardadas as devidas proporções, realizar algo parecido com um festival da BSGI. A pretensão não era pequena, mas o simples uso da palavra “festival” poderia tornar a realização demasiado pesada. Assim, se decidiu chamar o evento de Show Musical.
Queríamos homenagear os veteranos pioneiros, festejar o presente e visualizar o futuro. Por isso, o show foi estruturado em 3 cenas (passado, presente e futuro).

As trocas de roupas e guarda de bagagens foram nas dependências externas e nos fundos do Teatro Municipal, que fica bem em frente ao Teatro de Arena. Lá foi também a concentração dos participantes. Quando se aproximava o instante de cada grupo se apresentar, os figurantes se dirigiam ao Teatro de Arena, onde adentravam pelos portões laterais e aguardavam, na parte de trás do palco, o momento de entrar.

Para que a movimentação acontecesse de forma contínua e harmônica, uma planilha – um mapa em colunas – numa folha de papel sulfite, permitia visualizar tudo que acontecia simultaneamente. Uma folha de papel e um rádio walkie-talkie foram as ferramentas para conduzir tudo on line.

Teatro de Arena lotado, era chegada a hora. Verifiquei, setor a setor, se estavam prontos e a postos: palco, público, concentração. Pelo rádio, me comuniquei com todos os responsáveis de setores, inclusive os da parte externa, checando e alertando para o início do show. Então, dei a partida ao pessoal da coordenação de palco: ok, vamos iniciar!

Na platéia, o presidente da BSGI, o prefeito da cidade e outros ilustres convidados. O evento estava inserido também nas festividades pelo aniversário da cidade.

O apresentador foi Edvaldo Pradela, de São José do Rio Preto, que conduziu tudo de forma firme, brilhante e adequada.

O público foi saudado com a música Boas Vindas, de Caetano Veloso, na voz e violão do Carlinhos Vieira, de São Carlos, acompanhado de um pequeno coro de umas poucas pessoas.

A 1ª apresentação, na 1ª cena, como não poderia deixar de ser, foi uma tradicional dança japonesa, executada por membros de Mombuca, o local onde tudo começou. Seguiram-se a 2ª cena, festejando o presente, e a 3ª cena, vislumbrando o futuro. Foram várias apresentações, dentre elas a do Coral Esperança da BSGI que, lotando um ônibus fretado, veio de São Paulo especialmente para a ocasião.

O encerramento se deu com todos os figurantes ocupando o palco, cantando, batucando e dançando alegremente. O canto da cidade.

No final, palavras de cumprimentos e uma grande surpresa: a leitura da mensagem do presidente Ikeda, enviada de Londres.

Foi um presente inesperado. Não era comum uma localidade receber uma mensagem especial do presidente Ikeda. Aliás, nem imaginávamos que isso pudesse acontecer.

Eventos assim demandam meses de planejamento, preparativos, ensaios, encontros, reuniões, acertos, desacertos. Quando na liderança das atividades, embora se procure sempre transmitir segurança e tranqüilidade a todos, surgem momentos mais ou menos tensos em que não se está tão certo quanto a determinadas decisões que devem ser tomadas. Por mais minucioso que tenha sido o planejamento, várias coisas são decididas ali, no meio e ao calor da batalha. E, queira ou não, só se tem certeza de que tudo deu certo no final de tudo.

Uma grande lembrança que ficou, dentre tantas, é que, num determinado momento dos preparativos, qualquer sentimento de insegurança tinha desaparecido. A sensação era de que tudo estava dando muito certo e as coisas pareciam acontecer por si só.

Às vésperas do dia, recebemos a notícia de que o presidente Ikeda preparara uma mensagem para o evento. Foi quando entendi: É claro que estava tudo dando certo! Não tinha mesmo como dar errado!

A semana toda tinha sido de muito trabalho. O sábado, véspera do show, foi ocupado com afazeres por todos os lados. À tarde, o último ensaio geral - o único realizado com o pessoal de São Paulo, que mal teve tempo para fazer o reconhecimento do palco.

Algumas pessoas praticamente passaram a noite lá no teatro, com as últimas checagens. Permanecem vivos na memória o frescor e o cheiro do ar noturno. O barulho das folhas e dos galhos das árvores com o vento da madrugada. Antes de dar todos os preparativos por encerrado e descansar um pouco, me sentei em algum lugar, no exercício solitário de visualizar e repassar tudo mentalmente. Firmei a convicção e a certeza da vitória. Estava tudo feito e terminado. O dia seguinte já estava decidido.

O show mesmo eu não vi. Ou melhor, o que eu vi não foi o mesmo que todo mundo viu. O que eu vi foi o show por trás do show. O espetáculo proporcionado por inúmeras pessoas em seus esforços sinceros e desmedidos. A grande cena que ficou foi a última: a reunião de encerramento geral. Depois que todo mundo já tinha ido embora, no local somente o pessoal da coordenação de movimentos e preparativos. Tudo limpo e arrumado. O sentimento pleno de satisfação, do dever cumprido. O orgulho e a vontade de abraçar cada uma das pessoas, parceiras anônimas no fazer, responsáveis no acontecer.

Nessas ocasiões, a volta para casa é sempre livre e de coração leve.

Naquele dia, fizemos história.

domingo, 10 de junho de 2012

Um recente estudo realizado pela Universidade de Ciências da Saúde da Geórgia, nos Estados Unidos, indicou que praticar meditação com regularidade pode reduzir os riscos de desenvolvimento de doenças cardiovasculares em jovens com pressão alta.

A pesquisa foi realizada com 62 adolescentes com hipertensão, divididos em 2 grupos. Um deles meditou por 15 minutos, 2 vezes por dia. O outro grupo recebeu orientações sobre como reduzir a pressão arterial e os riscos para doenças cardiovasculares, mas as pessoas não praticaram meditação.

Após 4 meses, os jovens que fizeram as sessões de meditação apresentaram a massa ventricular esquerda menor. Essa massa (um indicador para futuras doenças cardiovasculares) foi mensurada com ecocardiograma tridimensional antes e depois do estudo.

O aumento da massa muscular do ventrículo esquerdo é causado por uma carga extra no coração de pessoas com hipertensão. Durante a meditação, que pode ser comparada a um período de repouso profundo, a atividade do sistema nervoso simpático diminui e o corpo libera uma quantidade menor de hormônios do stress. Como resultado, os vasos relaxam, a pressão sanguínea cai e o coração trabalha menos. A meditação transcendental resulta em um descanso para o corpo mais profundo do que o sono.

Na experiência realizada, 4 meses de meditação praticada por 15 minutos, 2 vezes ao dia, produziu efeitos concretos no organismo dos jovens. Se praticada ao longo do tempo, a meditação pode reduzir os riscos que esses jovens tem de desenvolver doenças cardiovasculares.

Eis aí mais uma razão para a prática diária de meditação. Ou, se preferirem, podem substituir pela recitação diária de daimoku que, também, é uma prática meditativa.

texto adaptado de matéria publicada em http://veja.abril.com.br/noticia/saude

terça-feira, 13 de março de 2012

Antigamente, acreditava-se que o átomo era a unidade indivisível da matéria. Hoje sabemos que o átomo é resultado da interação de partículas ainda mais fundamentais. Ao todo, são 16 partículas: 12 de matéria e 4 portadoras de força.

A grande questão é que nenhuma das partículas subatômicas possui massa. Se é que se pode dizer assim, eis o paradoxo: as partículas que compõem a matéria, por si só, não são feitas de matéria.

Não se sabe, ainda, o que dá materialidade ao mundo. Em outras palavras, não sabemos o que faz o mundo existir materialmente, tal como o vemos e sentimos.

Na década de 1960, o cientista britânico Peter Higgs apresentou a teoria da existência de uma partícula, chamada de bóson, que funcionaria como agregadora de elétrons e prótons e de todas as outras partículas fundamentais, que formam o átomo. Perto dessas partículas, o bóson as concederia massa. Afastadas do bóson, as partículas não teriam massa.

Existência e não existência.

O bóson de Higgs seria o agente que, ao dar massa às partículas mais elementares, possibilitou o desenvolvimento das estrelas, dos planetas e da vida. Por essa razão, o bóson é chamado também de “partícula de Deus”. A influência invisível do bóson afetaria o modo como as coisas se movem.

Recentemente, cientistas anunciaram que estariam perto de provar a existência do bóson de Higgs e, por extensão, a de um campo invisível que permearia todo o universo – o campo de Higgs.

As descobertas da ciência e a visão cosmológica do budismo.

A teoria de Higgs faz pensar na teoria do itinen sanzen, em particular a parte que revela os 10 fatores da vida, que explana a dinâmica da vida.

Há 9 fatores (ou, se quiserem chamar assim, partículas): 3 relativos à matéria, à vida em si, ao indivíduo (aparência, natureza, entidade); 2 portadores de força (poder, influência); 4 dizem respeito à mecânica de causa e efeito (causa interna, relação, efeito latente, efeito manifesto). O 10° fator (consistência do início ao fim) seria a partícula unificadora, o bóson de Higgs.

Campo de Higgs seria, então, outro nome para myoho.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Nós, que vivemos nos campos de concentração, lembramo-nos dos homens que passavam pelas tendas confortando os outros, dando-lhes seu último pedaço de pão. Podem ter sido poucos, mas são prova suficiente de que se pode tirar tudo de um homem, menos uma coisa: a última de suas liberdades - a de escolher seu comportamento em quaisquer circunstâncias, a de escolher seu próprio caminho.
Viktor E Frankl


Muitos anos atrás – e lá se vão mais de 15 - num sábado de novembro, dia de reuniões na sede central, em São Paulo. Os responsáveis da então Região Estadual Ribeirão Preto foram convocados para uma reunião com a diretoria da BSGI. Eu era o responsável da DMJ da RE. Na mesa, além da presidência, todos os coordenadores da CRE e de divisão. Dentre os presentes, nomino apenas alguns, já falecidos: os vice-presidentes Carlos Uno e Tatsuo Iwasaki – pessoas que gozam da minha mais alta admiração - e a então coordenadora da DF, Marina Nakajima.

Não foi uma reunião agradável. Acomodados em torno de uma enorme mesa de conferência, houve, dentre outras coisas, a apresentação de um plano de reestruturação da organização. Eu não fazia ideia de onde tinha saído aquele plano, e nem quem teriam sido seus autores, mas o fato era que nada daquilo havia sido discutido conosco. Eu, ao menos, não tinha ciência de nada. Na verdade, eram tempos em que aquele assunto não era mesmo discutido com os maiores envolvidos e interessados, e reuniões como aquelas não tinham o propósito de debater planos, mas de apenas e tão somente apresentar o que já tinha sido acertado.

Com a petulância que me era peculiar, não concordei. Discordei não porque não sabia do plano, mas porque realmente o achei muito ruim, tanto na concepção, quanto na inadequação de sua aplicação naquele momento.

Da minha parte, não foi uma mera discordância. Me posicionei claramente e chamei a discussão. Não sei de onde tirei coragem para encarar – diga-se de passagem, sozinho - aquela mesa, com toda a cúpula da BSGI. O que sei é que, na minha convicção, se não fosse naquele momento, não mais poderia fazê-lo. E fiz o que tinha que ser feito. A reunião foi encerrada.

Logo depois, um dirigente da BSGI me disse, em particular: Tadashi, se você diz certas coisas em determinadas ocasiões, corre o risco de se queimar. Respondi: se nesse nível de reunião eu não posso dizer o que penso, então não sei onde seria possível. Isso, aliás, contradiz tudo o que aprendi até hoje. O que menos me preocupa é se vou me queimar ou não. A mim foi dada uma responsabilidade que não pedi, mas a partir do momento em que a assumi, não é em meu nome que falo.

Depois, uma pessoa, de outra localidade, comentou comigo que haveria alterações em diversas organizações pelo Brasil, inclusive na dele. Disse que tinha ouvido falar que houve problemas com uma organização, com sérias discordâncias. Falei a ele que o ocorrido era verdade. Ele comentou: imaginei que só podia ter sido você. E emendou: quisera eu ter tido a mesma coragem.

Não tenho como saber se eu estava certo ou não. Talvez, se tivesse me calado, tudo pudesse ter sido melhor ou diferente. O que tenho é somente a convicção de ter feito o que deveria. Nunca me arrependi. Não carrego o peso da omissão. Aquela atitude me deu forças para, depois, nos anos que se seguiram, enfrentar de peito aberto os desafios que, eu nem imaginava, ainda estavam por surgir. De certeza, eu tinha perdido o medo.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

10 anos atrás.

15 de dezembro de 2001. 14:00 horas. Nove meses após iniciada a construção do Centro Cultural da BSGI Ribeirão Preto, era chegado o momento da Cerimônia de Entrega da Obra. Logo depois, conforme programado, tiveram lugar o plantio comemorativo, o corte da fita inaugural e a entrada no auditório para a tão esperada Cerimônia de Inauguração, marcada para as 15:00 horas, os participantes sendo recepcionados com música, oferecida por um grupo formado por componentes do Ongakutai e da Kotekitai.

As pessoas iam subindo as escadas pela primeira vez: um lance de degraus, um patamar, o segundo lance de degraus, a passagem por uma bonita porta de madeira. E lá estava o grande auditório.

Imagino o impacto que tiveram ao adentrar o recinto, com a visão daquele espaçoso salão, centenas de cadeiras novas e confortáveis e, lá na frente, um grande palco e um magnífico oratório.

Na véspera da inauguração, tarde da noite de sexta-feira, quando todos já tinham ido embora, subi ao auditório para uma última verificação. Cadeiras, corredores laterais e centrais, sala de som, palco, bastidores. Sentei-me na primeira fileira de cadeiras, e lá fiquei por alguns minutos. Sozinho e tranquilo, com a sensação de realidade e dever cumprido. Estava tudo pronto. Eu também estava pronto.

Eram quase 11:00 horas da manhã do sábado quando chegaram, do Japão, via fac-símile, as seguintes palavras:

Meus mais preciosos companheiros de toda a região de Ribeirão Preto, quero reiterar meu sincero sentimento de louvor e respeito pelo extraordinário empenho na edificação do mais novo Castelo do Kossen-rufu do Brasil. Parabéns, do fundo do meu coração! Por favor, fazendo desse Centro Cultural o Palácio da Lei Mística a impulsionar o avanço de todo o kossen-rufu local, peço-lhes que o protejam e prezem como se fosse o lar de cada um dos senhores. Mais uma vez quero bradar: Viva Ribeirão Preto! Viva a BSGI!

A cerimônia inaugural foi conduzida pelo então presidente da BSGI, Eduardo Taguchi. Paulo Dyonisio e Michelle foram os apresentadores. Após a recitação do gongyo, as palavras de abertura, proferidas pela Roselene. Seguiram-se cumprimentos, homenagens e outros itens da programação. No final, apresentações do Coral Lirio Branco, que cantou a música “Carmina Burana”, e da Camerata Ikeda, vinda de São Paulo.

Foram realizadas mais 3 sessões comemorativas, uma no sábado, e duas no domingo. As sessões foram abrilhantadas pelos grupos de apresentação: no sábado à noite, o então Pró-Taiga e o Taiyo Ongakutai; no domingo de manhã, a Banda Mirim do Taiyo Ongakutai e o Fukuchi; domingo à tarde, grupo Pioneiro e Nova Era Kotekitai. Finalizando as sessões, a participação especial da Camerata Ikeda.

A mensagem de congratulações do presidente Ikeda foi lida em todas as ocasiões. Diz a mensagem, em seu trecho central:

Este centro cultural, que ora está sendo inaugurado de forma muito radiante, é uma instalação aberta para a sociedade a fim de servir para o bem dos senhores presentes como dos cidadãos em geral. Espero que este centro cultural seja como o “oásis da tranqüilidade” e “academia do aprendizado da ciência humana” para todos os senhores. Desejo também que seja estimado como “sua própria casa” e amado como “praça da amizade e do diálogo”.

A mensagem finaliza com as palavras: Que haja glórias em Ribeirão Preto! Que seja Ribeirão Preto de contínuas vitórias!

O encerramento geral das atividades da inauguração se deu numa reunião, no final da tarde do domingo, ainda com a presença do presidente da BSGI. Na verdade, foi como uma reunião geral da Divisão dos Jovens em que, além dos quase 160 membros que atuaram nos preparativos e condução do evento, muitos outros se fizeram presentes. E foi nessa reunião que nasceu o slogan, extraído da parte final da mensagem: Josho Ribeirão Preto! Ribeirão Preto de contínuas vitórias!

Estavam estabelecidos o castelo e seu brasão.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

18 de novembro é a data da fundação da Soka Gakkai, e seu marco é um livro, fato altamente simbólico. Segue um pouco dessa história, contada pelo presidente Ikeda.

Fiquei fortemente emocionado ao ouvir o presidente Toda narrando as recordações de seu mestre:

Lembro-me da época em que o presidente Makiguti ainda estava fazendo pesquisas sobre a sua teoria do valor quando ele me disse:

 - Toda, até agora ninguém publicou uma teoria sobre a educação como incumbência mais importante de uma escola elementar. (...)

Jamais esquecerei aquela noite. Aconchegados ao redor da lareira da minha sala, por volta da meia noite o presidente Makiguti e eu discutíamos animadamente a respeito da publicação da sua teoria.
- Sensei, vamos publicar o livro! - eu exclamei e ele gentilmente retrucou.
- Isso custa caro.

Então eu lhe disse que não tinha muito dinheiro, mas que contribuiria com tudo que havia economizado e perguntei também qual era o propósito de sua teoria educacional. Ele respondeu serenamente:
- Para criar valores!

Pensei por uns instantes, e decididamente disse-lhe para chamá-la de Educação Soka.

Depois de uma série de mudanças e alterações que pareciam não ter fim, a tese do presidente Makiguti estava pronta para ser impressa. Entretanto, os preparativos não transcorriam como ele havia desejado, e isto o deixou bastante angustiado. Foi então que lhe pedi permissão para contribuir na execução dos trabalhos.

O rascunho da tese do sr Makiguti era escrito nos versos de folhetos de propaganda, envelopes e em pedaços de papel. Ao mesmo tempo em que ele se dedicava à sua teoria, também devotava-se incansavelmente a seus exigentes deveres de diretor de escola.

Publicar o enorme manuscrito naturalmente exigia um intenso trabalho de revisão. Originalmente, o sr Makiguti havia solicitado a um colega para encarregar-se dessa tarefa. Passados 3 meses, o manuscrito revisado não tinha nenhuma consistência e aparentava ser apenas um desordenado discurso sobre educação. Ele simplesmente não conseguiu acompanhar a profundidade das idéias do sr Makiguti.

- O que devo fazer? Há mais alguém que possa me ajudar? – aflito, o sr Makiguti perguntava em voz alta.

Sem o mínimo de hesitação, o sr Toda solicitou permissão para fazer os trabalhos de revisão. A princípio o sr Makiguti pareceu hesitar. Ele sentiu-se muito grato a seu discípulo tão dedicado e estudioso, mas sentia que poderia haver outras pessoas com maiores habilidades literárias.

Entretanto, o sr Toda admitiu:
- Embora minhas habilidades jamais possam ser comparadas às suas, tenho me esforçado ao máximo para aprender, ler e reler muitas obras primas. Darei tudo de mim para produzir um texto que tenha a sua aprovação. Eu quero fazê-lo pelo senhor.

Com lágrimas nos olhos, o sr Makiguti respondeu:
- É todo seu. Desculpe incomodá-lo, eu conto com você.

Naquela época, o sr Toda lecionava em uma escola durante o dia, e à noite cursava a universidade. Apesar de tantos afazeres, empenhou-se na concretização dessa obra e conseguiu levá-la ao pleno êxito.

trechos de A Grande Correnteza para a Paz, volume 1

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Atuar nas atividades da BSGI enriquece a vida de qualquer um com experiências inesquecíveis. Tive o privilégio de atuar em várias frentes, seja na idealização, planejamento, organização ou administração, ou na liderança e execução de eventos dos mais diversos portes – com poucas, dezenas, centenas e até milhares de pessoas.

As grandes realizações sempre ficam na memória, mas há aqueles acontecimentos, pequenos na aparência, que acabam se tornando elementos definidores e importantes referências.

Lembro-me de uma ocasião, adolescente ainda, em que atuava na condução de uma viagem de atividades. No retorno, estava cabisbaixo e um tanto quanto desanimado com algumas coisas. Uma pessoa me perguntou o que tinha acontecido. Respondi que estava chateado com a atitude de alguns, exatamente os responsáveis do meu grupo de atuação. Ela então disse, certamente sem o saber, algo que nunca esqueci e acabou por se tornar uma diretriz: Um dia você vai ser o responsável do grupo. Enquanto isso, aprenda tudo o que puder. Observe, estude, esteja preparado. E, quando acontecer, não cometa as mesmas falhas que deixaram você tão chateado.

Talvez por ingenuidade, talvez por ainda nada saber, acreditei naquelas palavras. E, a partir de então, em todos os lugares e ocasiões em que atuava, procurava observar tudo e a todos.

Fazer parte dos grupos de bastidores me proporcionou oportunidades únicas. Pude conhecer aquelas pessoas que não apareciam, que agiam quase em silêncio, por trás dos eventos, fazendo as coisas acontecerem. Me interessava saber quem eram os cérebros por trás das atividades. Quem as planejava? Quem traçava as estratégias? Como se preparavam? Como agiam? Como raciocinavam? Procurei aprender o que acontecia por trás dos acontecimentos. Os movimentos por trás dos movimentos.

Nunca perdia as chances de participar das atividades em São Paulo, em que podia ter uma visão mais ampla das coisas. Na sede central, aproveitava para conhecer os prédios por dentro, os escritórios, a intimidade dos lugares onde atuavam as pessoas que faziam tudo acontecer. Sempre dava um jeito de chegar um pouco mais cedo, ou sair um pouco mais tarde. Quando podia, entrava naqueles locais em que não se entrava normalmente. Conversava com as pessoas, ia descobrindo sutilezas, nuances, razões. Quando não era convocado ou escalado para atuar, me apresentava voluntariamente. Fiz parte de comissões, aprendi sobre o funcionamento das coisas. Vi por dentro, vi por fora. O que não via, procurava entrever e discernir. E acho que fui razoavelmente bem sucedido nisso.

Claro que não fui o único nessa empreitada. Havia um grupo de pessoas extraordinárias, altamente capazes, do qual muito me orgulho de ter feito parte.

E uma dessas pessoas assume agora a responsabilidade de liderar a BSGI em Ribeirão Preto

Homem de ação, em inúmeras ocasiões sua capacidade de realizar foi posta à prova. Não são poucas as testemunhas de sua sinceridade, espírito forte e disposição inabalável.

A ele, meus cumprimentos e reconhecimento.

Parabéns, Ricardo - companheiro de muitas parcerias e protagonista de grandes feitos.

Estamos todos em boas mãos.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Em 25 anos de existência, a Nova Era Kotekitai Ribeirão Preto percorreu uma trajetória que pude acompanhar de perto (exceto pelos últimos anos, estes acompanhados à distância).

A história, aliás, começou a ser escrita há bem mais tempo, por um pequeno grupo de moças que, juntas, atrevidamente se lançaram numa extraordinária aventura. Com modestos uniformes brancos, pouca técnica e muita vontade, e certamente sem imaginar em que sua ousadia se desdobraria, anos depois.

E eis que, na manhã de um agradável 12 de outubro de 1986, deu-se a reunião de fundação. Era um domingo ensolarado e, claro, muito alegre. Da reunião em si não me recordo. Aliás, dela não participei, pois fiquei do lado de fora da sala lotada. A lembrança que ficou foi o semblante feliz das pessoas, em especial a imagem eternizada numa foto tirada, lá na calçada da rua Paraíso, em frente ao local da histórica reunião.

Naquele dia, à tarde, foi realizada uma grande reunião geral, no auditório da escola Dom Alberto José Gonçalves, no bairro Campos Elíseos. A reunião foi em 2 partes e, na sua 2ª parte,aconteceu a estréia oficial do grupo. Para a ocasião, preparamos um painel que foi colocado no palco do auditório. A idéia era fazer um painel giratório com 2 lados, um para cada parte da reunião. O painel não era, claro, nenhum primor de tecnologia, e o “mecanismo giratório” era manual e tosco, de acordo com nossas parcas possibilidades da época. Mas as pessoas que trabalharam na confecção e montagem ficaram sinceramente orgulhosas do resultado e do presente oferecido ao novo grupo: um painel com figuras alegres e desenhos coloridos, que pudesse fazer um bonito fundo para a 1ª apresentação. Era o que podíamos oferecer de melhor.

Não foram poucas as oportunidades que tive o privilégio de compartilhar com o grupo: ensaios, apresentações internas, apresentações públicas, viagens, festivais.

Lembro-me de uma vez em que retornei de São Paulo trazendo um instrumento musical enviado de lá. O instrumento, aliás, não era delicado e nem pequeno: não cabia em bolsa, mochila ou sacola. Teve que vir no bagageiro do ônibus e, antes e depois, carregado nas costas.

E a flâmula com aquele vermelho vivo e detalhes verdes e amarelos, feita com muito carinho e esmero, dias e noites a fio. Deu trabalho, mas até que ficou bonita. Era com muito orgulho que a via abrindo os desfiles, sempre ladeada por 2 anjos da paz.

E aquela música que tanto ouvi – Akai yubin basha (acho que era esse o nome da música). Como esquecê-la? Confesso que em determinada época quase não agüentava mais ouvi-la. Hoje, a lembrança daquela melodia soa como saudade de uma época mais ingênua e, talvez, mais sincera.

Claro, não há como não falar da Renata Araujo e da Verônica Fantini. Transcrevo aqui trechos de outro texto que postei neste blog, há mais de 2 anos.

Pequenina como era, a gente quase a confundia a Renatinha com as crianças do pompom, de quem ela cuidava. Só não dava para confundir a grandeza e a dignidade com que ela viveu e lidou com suas circunstâncias e dificuldades.


A Verônica era uma princesinha. Talvez tenha partido tão cedo porque, tão cheia era de vida que a vida não coube dentro dela. Em sua despedida, presenciei uma das cenas que mais me emocionaram e que até hoje vibra em mim: suas amigas declamando, em lágrimas, o poema “Anjos da Paz”. Anjos se despedindo de anjo.

Outros 25 anos virão. Mas os que se foram, esses também são meus.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

06/10/2011. Noite de quinta-feira. 21:10 horas.

Rodovia Federal BR 267, km 194.

Passamos pela pequena cidade de Bom Jardim de Minas. Estamos a pouco mais de 90 km da cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, que fica a 660 km de Ribeirão Preto.

Pista simples, curva fechada. Descendo a 80 ou 90 km/hora, o carro dá uma pequena escorregada, puxando para o acostamento. Tento manter o carro na pista, mas ele escorrega mais para o acostamento. Asfalto novo, provavelmente são britas ou pedriscos ou mesmo óleo no asfalto. O carro derrapa novamente, agora de uma vez, indo para o outro lado da rodovia, por onde vem subindo um caminhão. Para evitar uma colisão de frente, manobro a direção para voltar para o meu lado da pista. O carro derrapa por completo, foge de qualquer controle, bate na guia do acostamento, se eleva do chão e gira no ar.

No momento em que perco o controle do carro e o sinto virando no ar, recito em voz alta a única coisa que me vem à mente: Nam-myoho-rengue-kyo! Ao mesmo tempo, seguro o braço da Bianca, como que para protegê-la. No exato instante em que acabo de recitar aquele único daimoku, o carro para de lado – todo, de chapa, por inteiro - a poucos centímetros de uma ribanceira.

Tudo em menos de 10 segundos.

O veículo caiu no único lugar em que podia cair, para não rolar de vez barranco abaixo. Contrariando as leis da física, de alguma forma o carro cessou seu movimento de queda e parou de lado. Alguns centímetros para frente, para trás ou para o lado, e a queda morro abaixo seria certa.

Fomos imediatamente socorridos pelo motorista do caminhão com o qual escapamos de colidir, e por outras pessoas. Saímos do carro pela janela, com vários homens apoiando o veículo para que ele não se precipitasse para o lado do barranco.

Segundo os policiais federais que lavraram a ocorrência e periciaram o local, as manobras pareceram ter sido calculadas para que o carro parasse naquele exato local, sem descer pela ribanceira.

Nenhum arranhão. Nenhum ferimento.

No mesmo mês de outubro, em 1994, venci a morte em outro acidente de carro, que já relatei neste blog em outra postagem. Daquele acidente em si, não sei nada: o que ou como aconteceu. Naquela ocasião, posso dizer que fui salvo e me recuperei graças ao daimoku das pessoas.

Desta vez, tudo vi e posso relatar o ocorrido: o automóvel derrapou 3 vezes; escapamos de uma colisão frontal com um caminhão; o veículo saiu do chão e voou por 7 metros, a uma altura de 2 metros, girando no ar. E digo com convicção: o que impediu a queda do carro e as proporções que o acidente poderia tomar foi aquele único daimoku. De alguma forma, naquele daimoku estava concentrada toda a vida vivida até então e a força e o poder de mudar instantaneamente a circunstância. Itinen Sanzen.

Nunca duvidei que fosse verdade: um não é pouco, um milhão não é muito.

Mais uma vez ganhei!

terça-feira, 3 de maio de 2011

O Sokahan surgiu no Japão, em novembro de 1976 (o BS tem trazido, ultimamente, trechos da Nova Revolução Humana relativas a passagens históricas desse acontecimento). A apresentação oficial do novo grupo se deu em 5 de novembro, dia da DMJ.

No Brasil, a fundação foi em 19 de outubro de 1982, dia da BSGI. Era um grupo de 20 pessoas, lideradas por Naoto Yoshikawa, na época vice coordenador da DMJ, hoje 1° vice presidente. Meu irmão Celso, que à época morava em São Paulo, fez parte daquele grupo pioneiro.

Em Ribeirão Preto, a fundação do Sokahan foi em 1998. Na verdade, antes de ser fundado, o grupo já “existia” por aqui há bastante tempo: os esforços para sua existência oficial já tinha uma história de quase 10 anos.

O Sokahan sempre foi um grupo, por assim dizer, carismático. Quando de seu surgimento na BSGI, quase imediatamente surgiram em Ribeirão Preto, também, pessoas apaixonadas por ele. Era o pessoal que sempre dava um jeito de participar das atividades do Sokahan em São Paulo. E, mesmo quando não havia jeito, dava-se um jeito. Havia até gente, em São Paulo, que achava que alguns daqui eram da capital, de tanto que eram vistos por lá.

Em março de 1990, por exemplo, dezenas de rapazes participaram do X Festival Cultural dos Jovens para a Paz Mundial, como integrantes do Sokahan. Aliás, não foi fácil conseguir autorização para que isso acontecesse, pois o festival, a princípio, seria realizado exclusivamente pelo pessoal de São Paulo e imediações. Um dia - talvez uma quarta-feira - fui até lá para participar de uma reunião sobre o evento. A intenção era demonstrar, estando presente em uma reunião em pleno meio de semana, que estávamos (nós, o pessoal do interior) dispostos a fazê-lo sempre que necessário. Todos que lá estavam eram da capital ou adjacências. Eu era o único “caipira”. Senti que, de alguma forma, estava representando todo o interior da BSGI. E, mesmo não tendo sido nomeado portavoz de ninguém, foi essa condição - de representante - que me encorajou a reinvidicar vagas para o interior. Aproveitei a ocasião e conversei com todos os líderes de grupos que pude encontrar, solicitando e deixando claro que poderiam confiar no “pessoal do interior”. Nosso histórico nos dava credibilidade. Alguns dias depois a BSGI noticiu que o festival seria realizado com a participação de pessoas de todo o território nacional.

A conversa mais difícil tinha sido exatamente com os responsáveis do Sokahan: a atuação era restrita aos membros oficiais do grupo, dada a alta responsabilidade das atribuições e exigência de presença infalível em todos os ensaios, que seriam realizados por vários meses, em praticamente todos os finais de semana. Depois de muita insistência, ouvi do responsável: “Tudo bem, então! Mas, vocês participarão como se fossem daqui, de São Paulo, sem nenhum tipo de tratamento diferenciado, pelo fato de estarem vindo do interior. Vocês terão que se virar com locomoção, alimentação e pernoite. E, na atuação, vocês têm que estar no mesmo nível que o pessoal daqui!” Só pude concordar, é claro!

E assim foi que um grupo de 22 rapazes, liderados pelo Roberto Matoshima, o fizeram como membros do Sokahan. E dava um orgulho danado vê-los ali, atuando com toda seriedade e responsabilidade, correspondendo a todas as expectativas. Foi uma prova de fogo. Acompanhei à distância todos os seus movimentos: sabia onde estavam atuando, em que condições tinham viajado, onde pernoitariam.

Durante anos, o desejo de fundar o Sokahan em Ribeirão Preto foi acalentado por algumas pessoas. “Vamos fundar o Sokahan!”, diziam. “Calma, não se funda um grupo assim”, era a resposta que ouviam. “É preciso, primeiro, fortalecer o Gajokai”, era outra coisa que sempre era dita.

Em 1996, com o propósito de criar condições para a fundação, foi montado o Grupo de Seiri da DMJ. 17 membros do Gajokai foram “convidados” a compor o grupo, que seria o precursor do Sokahan. Além disso, ficou decidido o compromisso de participar da Academia do Sokahan, em São Paulo (na BSGI, após entrevista pessoal, todos os novos membros do grupo tinham passagem obrigatória pela Academia). Ou seja, nosso grupo seria fundado com membros oficiais do Sokahan da BSGI, formados e certificados na Academia.

Assim é que a 9ª Turma da Academia do Sokahan, realizada em 1996/1997, em São Paulo, contou com a participação de 10 rapazes de Ribeirão Preto: Wilson, Izildo, Milton, Franco, Alexandre, Felippe, Claudionor, Sidnei, Cidclei e Anderson. Esses são os precursores-pioneiros-fundadores do Sokahan Ribeirão Preto, formandos da 9ª Turma da Academia do Sokahan. Depois, mais 10 rapazes se formaram na 10ª Turma da Academia.

E, em 1998, no significativo dia 3 de maio, se deu a fundação do Sokahan Ribeirão Preto.

E aqui também se estabeleceu o farol de coragem e sabedoria a iluminar o eterno caminho do kossen-rufu.