terça-feira, 14 de setembro de 2010

11 de setembro de 2001. O dia da insensatez. Dia que, de fato, marcou o início do século XXI: o maior ataque terrorista da história deixa o mundo perplexo e em estado de choque.

E assim teve início o século XXI: com a marca da barbárie, deixando para trás um século não menos terrível.

Num livro de repercussão, chamado “Era dos Extremos”, o historiador inglês Eric Hobsbawm qualificou o século XX como breve, curto. Segundo ele, o século passado começou e terminou simbolicamente no mesmo lugar: em Sarajevo, quando, em 1914 teve início a Primeira Guerra Mundial e onde, em 1991, começou a chamada “guerra sem fim” ou “guerra sem regras”.

Para Hobsbawm, o curto século XX superou em tudo o que foi registrado até hoje em matéria de violência, com perto de 200 milhões de vítimas de massacres de todo tipo. De fato, do ponto de vista das matrizes históricas e mentais – e não do calendário – o século 20 foi mais curto do que os outros, tendo se iniciado com a Primeira Guerra Mundial, e se encerrado com o esfacelamento do império soviético. Entre essas 2 pontas, a humanidade conheceu o que, sob muitos aspectos, foi o período mais negro de sua história, com as mais sangrentas guerras.

O século 20 será lembrado também por uma mudança espiritual de grande impacto em todos os aspectos da vida humana. Pensadores, escritores e artistas fizeram evaporar certezas que levaram eras inteiras para se solidificar. Coisas concretas como matéria e energia, tempo e distância, se tornaram relativas. Conceitos abstratos como certo e errado, justo e injusto, também foram relativizados. Isso trouxe consequências de alcance extraordinário, e desdobramentos ainda inimagináveis.

Na verdade, desde o século 19 o mundo já vinha convivendo com a destruição das certezas. Darwin já tinha feito o maior dos ataques, à teoria da criação divina. Karl Marx propôs que os fatos da economia constituíam um motor com potência tal que era capaz de determinar o que os homens pensavam, sentiam e desejavam, tirando, de certa forma, o destino humano das mãos dos indivíduos e entregando-o às engrenagens da história.

Na virada do século 19, Freud inovou a forma de pensar a responsabilidade pessoal pelas deficiências humanas. Para ele, o homem não é mau, violento, egoísta ou invejoso exclusivamente por sua própria escolha, mas é levado a esses estados por forças além de seu controle.

E, com Einstein, o mundo ficou sabendo que o tempo podia transcorrer mais depressa ou mais devagar. E que o espaço podia se curvar. O grande marco da relativização como um processo do século 20 pode ser atribuído à Albert Einstein e sua Teoria da Relatividade, de 1905, comprovada empiricamente logo depois da I Guerra Mundial. Ainda hoje, sua teoria é provada cientificamente a cada dia.

A seleção natural, a revolução de Einstein, o modo marxista de ver o mundo e a análise freudiana combinaram-se para, cada uma à sua maneira, subverter a idéia de que o mundo era um lugar simples, regulado por valores universais e eternos.

Aquele homem do limiar do século 20 e este que agora se encontra ainda no início do novo século são criaturas separadas por incríveis transformações. O primeiro acreditava em verdades absolutas, em códigos morais. O segundo olha tudo isso sob o prisma da dúvida e da incerteza.

Há algo errado com o mundo, que prioriza o desempenho econômico e o poder acima de tudo. Há um crescente reconhecimento de que as pessoas devem ser a prioridade e que o “crescimento humano” é mais importante do que o econômico. Começamos a compreender que em nossas sociedades modernas, em que não vivemos sem celulares, internet e celebridades, e em que somos orientados para o conhecimento com uma explosão de informações, há uma urgente necessidade por uma explosão equivalente de sabedoria para adequar o uso desse conhecimento.

Já adentramos o século 21, e devemos nos perguntar que tipo de século queremos que ele seja afinal. Embora o fim da Guerra Fria tenha derrubado o muro que dividia o Oriente e o Ocidente, a humanidade está longe de esboçar um quadro confiável de paz. As lutas raciais e os conflitos regionais são ininterruptos, o ambiente do planeta continua a se deteriorar, refugiados fogem aos montes do sofrimento e da opressão. A moral e a ética continuam sendo continuamente atacadas e feridas.

A par disso vivemos, cada um de nós, nossos próprios dramas pessoais, anseios, doenças, desamores, inseguranças, tudo somando-se e misturando-se com as das demais pessoas. Estamos, enfim, diante de uma importante encruzilhada, sendo colocados à prova, tanto individual - como pessoa humana - quanto coletivamente - como civilização humana.

É preciso, pois, que decidamos e nos posicionemos. É preciso que respondamos à questão: para onde, afinal, estamos indo?

Tempos de crise. Mais do que nunca, filosofia. E sabedoria. E coragem.