sábado, 24 de abril de 2010

O mais antigo núcleo do Taiyo Ongakutai do interior da BSGI é o de Ribeirão Preto – tem 36 anos, é quase um quarentinha.

Não sei de quem foi a iniciativa, como foram os primeiros passos, as primeiras discussões... Quem, afinal, deu o primeiro passo? Ninguém era músico ou entendia de música. Mas que aquela gente era atrevida, isso era. A história do grupo - aliás, como tantas outras - merece registro e, quem sabe, virar um doc.

Eu era ainda criança, quase adolescente. Me lembro de um rapaz, de sobrenome Suzuki (que foi o primeiro responsável de comunidade da DMJ em Ribeirão Preto). Havia outras pessoas que também estavam na empreitada: Anselmo, Eduardo, Wanderley. Algumas fisionomias ainda me são visíveis, mas escapam-me os nomes. Talvez tudo fosse pouco mais que uma brincadeira e eles nem imaginassem no que aquilo poderia se desdobrar mas, certamente, eles têm muitas histórias para contar.

Naquele tempo, nos anos 70, não havia critérios ou procedimentos definidos para a fundação de um grupo horizontal ou de treinamento. Mas a seriedade era sempre muito grande, e sabia-se que, com certeza, o trabalho seria árduo, até que o grupo fosse reconhecido como tal, e pudesse ser chamado por um nome oficial.

As grandes reuniões – grandes para a época, com 100 ou pouco mais participantes – passaram a contar com a animação daquele pessoal com instrumentos musicais. A criançada fazia algazarra durante a reunião toda mas, na hora das canções, todo mundo se aproximava para ouvir. Não importava que música era, e nem se eles sabiam tocar. O que interessava era o barulho daqueles instrumentos que, crianças, nunca tínhamos oportunidade de ver ou ouvir ao vivo.

E, claro, ficávamos sempre rodeando para, num descuido, dar uma mexidinha em alguma coisa.

Tanto rodeei que, numa oportunidade, quando faltou alguém, me deixaram participar, tocando prato. Em outras ocasiões, também dei umas batidas no surdo. E eu queria mesmo era tocar a caixinha. Mas essa tinha titular. E eu ficava torcendo para que, em alguma reunião, ele faltasse, e não tivesse mais ninguém para substitui-lo.

O grupo, na verdade, não era bem uma banda. Tinha um ou dois instrumentos de sopro: um trompete (que na época todo mundo chamava de piston) e um clarinete. O resto era barulho: uma caixinha, um surdo e um prato. E era tudo.

O grupo foi crescendo e se aprimorando e, num determinado momento, já podia ser chamado de Ongakutai. Tinha, então, uma estrutura mínima, com responsável estabelecido oficialmente e o pessoal procurando, de alguma forma, aprimoramento técnico.

Muitos foram os percalços, tendo chegado quase a desaparecer, seja pelas grandes dificuldades, seja por falta de participantes. Graças à paixão e empenho de alguns, acabou por se transformar num grupo extraordinário.

Os anos se passaram, e o desafio de tocar e se apresentar dignamente nas atividades internas foi plenamente alcançado. Mas sair às ruas, representando a BSGI, era um objetivo mais distante. Como não tínhamos nenhuma experiência do tipo, aproveitávamos as oportunidades para assistir e observar como as outras bandas procediam em suas apresentações, tentando assim nos preparar para quando acontecesse.

E um dia aconteceu. Maio de 1988, na cidade de Monte Alto. Estreamos nas ruas de uma cidade. Fomos e demos o recado, com pouca técnica, mas com uma boa dose de coragem. Dois anos depois, junho de 1990, ganhamos as ruas de Ribeirão Preto, finalmente.

Eu era um dos líderes da DMJ e, num determinado momento, me convenci de que o grupo tinha que ter algo assim como uma bandeira que seguisse na frente, abrindo o caminho e anunciando o avanço daqueles jovens bandeirantes. Eu não sabia e nem tinha ideia de onde eram feitas tais coisas –tempos sem Google - mas sabia que, certamente, custavam caro. Baseado em fotos de revistas e do que já tinha visto, coloquei-me a confeccionar um estandarte e flâmulas para os surdos. Ainda me lembro e me vejo naquele dia, andando pelas lojas do centro da cidade, procurando tecidos e materiais que servissem. Eu não sabia nomes de tecidos. Escolhi pelo caimento, textura e cores.

O tecido azul escuro do estandarte – um tipo de feltro - foi colado sobre um suporte de compensado. As letras e o desenho estilizado da asa-símbolo do grupo foram recortados em feltro branco e vermelho, e colados com cola-pano. Atrás, velcro para poder encaixar um pedaço de cano, que pudesse ser segurado por 2 pessoas, uma de cada lado.

As flâmulas – brancas com franjas douradas - também levaram muita cola-pano. As franjas douradas foram costuradas por senhoras da DF. O tecido acetinado, cortado na largura certa para cobrir o surdo, amarrado no meio, na parte de cima do instrumento, e caindo pela frente. Foram feitas 4 flâmulas.

Tudo muito artesanal. Mas até que ficou bonito. Não sei se ainda existem - o estandarte e as flâmulas.

Nunca fui membro oficial do grupo. Mas a partir de então, sempre que a banda se apresentava, eu ia junto, bem à frente, desfilando na forma daquele estandarte azul e das flâmulas brancas.