sexta-feira, 20 de julho de 2012

A pé e de coração leve
enveredo pela estrada aberta.
Saudável, livre, o mundo à minha frente.
À minha frente o longo atalho pardo
levando-me aonde eu queira.
Daqui em diante não peço mais boa sorte,
boa sorte sou eu.
Daqui em diante não lamento mais,
não transfiro, não careço de nada.
Nada de queixas por trás das portas
de bibliotecas, de tristes críticas.
Forte e contente vou eu
pela estrada aberta.

walt whitman
 
Em 12 de junho de 1994 aconteceu, se não a maior, uma das mais significativas realizações da história da BSGI em Ribeirão Preto. Foi o dia em que, no Teatro de Arena, comemoramos 30 anos de atividades.

A ambição era, guardadas as devidas proporções, realizar algo parecido com um festival da BSGI. A pretensão não era pequena, mas o simples uso da palavra “festival” poderia tornar a realização demasiado pesada. Assim, se decidiu chamar o evento de Show Musical.
Queríamos homenagear os veteranos pioneiros, festejar o presente e visualizar o futuro. Por isso, o show foi estruturado em 3 cenas (passado, presente e futuro).

As trocas de roupas e guarda de bagagens foram nas dependências externas e nos fundos do Teatro Municipal, que fica bem em frente ao Teatro de Arena. Lá foi também a concentração dos participantes. Quando se aproximava o instante de cada grupo se apresentar, os figurantes se dirigiam ao Teatro de Arena, onde adentravam pelos portões laterais e aguardavam, na parte de trás do palco, o momento de entrar.

Para que a movimentação acontecesse de forma contínua e harmônica, uma planilha – um mapa em colunas – numa folha de papel sulfite, permitia visualizar tudo que acontecia simultaneamente. Uma folha de papel e um rádio walkie-talkie foram as ferramentas para conduzir tudo on line.

Teatro de Arena lotado, era chegada a hora. Verifiquei, setor a setor, se estavam prontos e a postos: palco, público, concentração. Pelo rádio, me comuniquei com todos os responsáveis de setores, inclusive os da parte externa, checando e alertando para o início do show. Então, dei a partida ao pessoal da coordenação de palco: ok, vamos iniciar!

Na platéia, o presidente da BSGI, o prefeito da cidade e outros ilustres convidados. O evento estava inserido também nas festividades pelo aniversário da cidade.

O apresentador foi Edvaldo Pradela, de São José do Rio Preto, que conduziu tudo de forma firme, brilhante e adequada.

O público foi saudado com a música Boas Vindas, de Caetano Veloso, na voz e violão do Carlinhos Vieira, de São Carlos, acompanhado de um pequeno coro de umas poucas pessoas.

A 1ª apresentação, na 1ª cena, como não poderia deixar de ser, foi uma tradicional dança japonesa, executada por membros de Mombuca, o local onde tudo começou. Seguiram-se a 2ª cena, festejando o presente, e a 3ª cena, vislumbrando o futuro. Foram várias apresentações, dentre elas a do Coral Esperança da BSGI que, lotando um ônibus fretado, veio de São Paulo especialmente para a ocasião.

O encerramento se deu com todos os figurantes ocupando o palco, cantando, batucando e dançando alegremente. O canto da cidade.

No final, palavras de cumprimentos e uma grande surpresa: a leitura da mensagem do presidente Ikeda, enviada de Londres.

Foi um presente inesperado. Não era comum uma localidade receber uma mensagem especial do presidente Ikeda. Aliás, nem imaginávamos que isso pudesse acontecer.

Eventos assim demandam meses de planejamento, preparativos, ensaios, encontros, reuniões, acertos, desacertos. Quando na liderança das atividades, embora se procure sempre transmitir segurança e tranqüilidade a todos, surgem momentos mais ou menos tensos em que não se está tão certo quanto a determinadas decisões que devem ser tomadas. Por mais minucioso que tenha sido o planejamento, várias coisas são decididas ali, no meio e ao calor da batalha. E, queira ou não, só se tem certeza de que tudo deu certo no final de tudo.

Uma grande lembrança que ficou, dentre tantas, é que, num determinado momento dos preparativos, qualquer sentimento de insegurança tinha desaparecido. A sensação era de que tudo estava dando muito certo e as coisas pareciam acontecer por si só.

Às vésperas do dia, recebemos a notícia de que o presidente Ikeda preparara uma mensagem para o evento. Foi quando entendi: É claro que estava tudo dando certo! Não tinha mesmo como dar errado!

A semana toda tinha sido de muito trabalho. O sábado, véspera do show, foi ocupado com afazeres por todos os lados. À tarde, o último ensaio geral - o único realizado com o pessoal de São Paulo, que mal teve tempo para fazer o reconhecimento do palco.

Algumas pessoas praticamente passaram a noite lá no teatro, com as últimas checagens. Permanecem vivos na memória o frescor e o cheiro do ar noturno. O barulho das folhas e dos galhos das árvores com o vento da madrugada. Antes de dar todos os preparativos por encerrado e descansar um pouco, me sentei em algum lugar, no exercício solitário de visualizar e repassar tudo mentalmente. Firmei a convicção e a certeza da vitória. Estava tudo feito e terminado. O dia seguinte já estava decidido.

O show mesmo eu não vi. Ou melhor, o que eu vi não foi o mesmo que todo mundo viu. O que eu vi foi o show por trás do show. O espetáculo proporcionado por inúmeras pessoas em seus esforços sinceros e desmedidos. A grande cena que ficou foi a última: a reunião de encerramento geral. Depois que todo mundo já tinha ido embora, no local somente o pessoal da coordenação de movimentos e preparativos. Tudo limpo e arrumado. O sentimento pleno de satisfação, do dever cumprido. O orgulho e a vontade de abraçar cada uma das pessoas, parceiras anônimas no fazer, responsáveis no acontecer.

Nessas ocasiões, a volta para casa é sempre livre e de coração leve.

Naquele dia, fizemos história.

domingo, 10 de junho de 2012

Um recente estudo realizado pela Universidade de Ciências da Saúde da Geórgia, nos Estados Unidos, indicou que praticar meditação com regularidade pode reduzir os riscos de desenvolvimento de doenças cardiovasculares em jovens com pressão alta.

A pesquisa foi realizada com 62 adolescentes com hipertensão, divididos em 2 grupos. Um deles meditou por 15 minutos, 2 vezes por dia. O outro grupo recebeu orientações sobre como reduzir a pressão arterial e os riscos para doenças cardiovasculares, mas as pessoas não praticaram meditação.

Após 4 meses, os jovens que fizeram as sessões de meditação apresentaram a massa ventricular esquerda menor. Essa massa (um indicador para futuras doenças cardiovasculares) foi mensurada com ecocardiograma tridimensional antes e depois do estudo.

O aumento da massa muscular do ventrículo esquerdo é causado por uma carga extra no coração de pessoas com hipertensão. Durante a meditação, que pode ser comparada a um período de repouso profundo, a atividade do sistema nervoso simpático diminui e o corpo libera uma quantidade menor de hormônios do stress. Como resultado, os vasos relaxam, a pressão sanguínea cai e o coração trabalha menos. A meditação transcendental resulta em um descanso para o corpo mais profundo do que o sono.

Na experiência realizada, 4 meses de meditação praticada por 15 minutos, 2 vezes ao dia, produziu efeitos concretos no organismo dos jovens. Se praticada ao longo do tempo, a meditação pode reduzir os riscos que esses jovens tem de desenvolver doenças cardiovasculares.

Eis aí mais uma razão para a prática diária de meditação. Ou, se preferirem, podem substituir pela recitação diária de daimoku que, também, é uma prática meditativa.

texto adaptado de matéria publicada em http://veja.abril.com.br/noticia/saude

terça-feira, 13 de março de 2012

Antigamente, acreditava-se que o átomo era a unidade indivisível da matéria. Hoje sabemos que o átomo é resultado da interação de partículas ainda mais fundamentais. Ao todo, são 16 partículas: 12 de matéria e 4 portadoras de força.

A grande questão é que nenhuma das partículas subatômicas possui massa. Se é que se pode dizer assim, eis o paradoxo: as partículas que compõem a matéria, por si só, não são feitas de matéria.

Não se sabe, ainda, o que dá materialidade ao mundo. Em outras palavras, não sabemos o que faz o mundo existir materialmente, tal como o vemos e sentimos.

Na década de 1960, o cientista britânico Peter Higgs apresentou a teoria da existência de uma partícula, chamada de bóson, que funcionaria como agregadora de elétrons e prótons e de todas as outras partículas fundamentais, que formam o átomo. Perto dessas partículas, o bóson as concederia massa. Afastadas do bóson, as partículas não teriam massa.

Existência e não existência.

O bóson de Higgs seria o agente que, ao dar massa às partículas mais elementares, possibilitou o desenvolvimento das estrelas, dos planetas e da vida. Por essa razão, o bóson é chamado também de “partícula de Deus”. A influência invisível do bóson afetaria o modo como as coisas se movem.

Recentemente, cientistas anunciaram que estariam perto de provar a existência do bóson de Higgs e, por extensão, a de um campo invisível que permearia todo o universo – o campo de Higgs.

As descobertas da ciência e a visão cosmológica do budismo.

A teoria de Higgs faz pensar na teoria do itinen sanzen, em particular a parte que revela os 10 fatores da vida, que explana a dinâmica da vida.

Há 9 fatores (ou, se quiserem chamar assim, partículas): 3 relativos à matéria, à vida em si, ao indivíduo (aparência, natureza, entidade); 2 portadores de força (poder, influência); 4 dizem respeito à mecânica de causa e efeito (causa interna, relação, efeito latente, efeito manifesto). O 10° fator (consistência do início ao fim) seria a partícula unificadora, o bóson de Higgs.

Campo de Higgs seria, então, outro nome para myoho.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Nós, que vivemos nos campos de concentração, lembramo-nos dos homens que passavam pelas tendas confortando os outros, dando-lhes seu último pedaço de pão. Podem ter sido poucos, mas são prova suficiente de que se pode tirar tudo de um homem, menos uma coisa: a última de suas liberdades - a de escolher seu comportamento em quaisquer circunstâncias, a de escolher seu próprio caminho.
Viktor E Frankl


Muitos anos atrás – e lá se vão mais de 15 - num sábado de novembro, dia de reuniões na sede central, em São Paulo. Os responsáveis da então Região Estadual Ribeirão Preto foram convocados para uma reunião com a diretoria da BSGI. Eu era o responsável da DMJ da RE. Na mesa, além da presidência, todos os coordenadores da CRE e de divisão. Dentre os presentes, nomino apenas alguns, já falecidos: os vice-presidentes Carlos Uno e Tatsuo Iwasaki – pessoas que gozam da minha mais alta admiração - e a então coordenadora da DF, Marina Nakajima.

Não foi uma reunião agradável. Acomodados em torno de uma enorme mesa de conferência, houve, dentre outras coisas, a apresentação de um plano de reestruturação da organização. Eu não fazia ideia de onde tinha saído aquele plano, e nem quem teriam sido seus autores, mas o fato era que nada daquilo havia sido discutido conosco. Eu, ao menos, não tinha ciência de nada. Na verdade, eram tempos em que aquele assunto não era mesmo discutido com os maiores envolvidos e interessados, e reuniões como aquelas não tinham o propósito de debater planos, mas de apenas e tão somente apresentar o que já tinha sido acertado.

Com a petulância que me era peculiar, não concordei. Discordei não porque não sabia do plano, mas porque realmente o achei muito ruim, tanto na concepção, quanto na inadequação de sua aplicação naquele momento.

Da minha parte, não foi uma mera discordância. Me posicionei claramente e chamei a discussão. Não sei de onde tirei coragem para encarar – diga-se de passagem, sozinho - aquela mesa, com toda a cúpula da BSGI. O que sei é que, na minha convicção, se não fosse naquele momento, não mais poderia fazê-lo. E fiz o que tinha que ser feito. A reunião foi encerrada.

Logo depois, um dirigente da BSGI me disse, em particular: Tadashi, se você diz certas coisas em determinadas ocasiões, corre o risco de se queimar. Respondi: se nesse nível de reunião eu não posso dizer o que penso, então não sei onde seria possível. Isso, aliás, contradiz tudo o que aprendi até hoje. O que menos me preocupa é se vou me queimar ou não. A mim foi dada uma responsabilidade que não pedi, mas a partir do momento em que a assumi, não é em meu nome que falo.

Depois, uma pessoa, de outra localidade, comentou comigo que haveria alterações em diversas organizações pelo Brasil, inclusive na dele. Disse que tinha ouvido falar que houve problemas com uma organização, com sérias discordâncias. Falei a ele que o ocorrido era verdade. Ele comentou: imaginei que só podia ter sido você. E emendou: quisera eu ter tido a mesma coragem.

Não tenho como saber se eu estava certo ou não. Talvez, se tivesse me calado, tudo pudesse ter sido melhor ou diferente. O que tenho é somente a convicção de ter feito o que deveria. Nunca me arrependi. Não carrego o peso da omissão. Aquela atitude me deu forças para, depois, nos anos que se seguiram, enfrentar de peito aberto os desafios que, eu nem imaginava, ainda estavam por surgir. De certeza, eu tinha perdido o medo.