domingo, 26 de fevereiro de 2012

Nós, que vivemos nos campos de concentração, lembramo-nos dos homens que passavam pelas tendas confortando os outros, dando-lhes seu último pedaço de pão. Podem ter sido poucos, mas são prova suficiente de que se pode tirar tudo de um homem, menos uma coisa: a última de suas liberdades - a de escolher seu comportamento em quaisquer circunstâncias, a de escolher seu próprio caminho.
Viktor E Frankl


Muitos anos atrás – e lá se vão mais de 15 - num sábado de novembro, dia de reuniões na sede central, em São Paulo. Os responsáveis da então Região Estadual Ribeirão Preto foram convocados para uma reunião com a diretoria da BSGI. Eu era o responsável da DMJ da RE. Na mesa, além da presidência, todos os coordenadores da CRE e de divisão. Dentre os presentes, nomino apenas alguns, já falecidos: os vice-presidentes Carlos Uno e Tatsuo Iwasaki – pessoas que gozam da minha mais alta admiração - e a então coordenadora da DF, Marina Nakajima.

Não foi uma reunião agradável. Acomodados em torno de uma enorme mesa de conferência, houve, dentre outras coisas, a apresentação de um plano de reestruturação da organização. Eu não fazia ideia de onde tinha saído aquele plano, e nem quem teriam sido seus autores, mas o fato era que nada daquilo havia sido discutido conosco. Eu, ao menos, não tinha ciência de nada. Na verdade, eram tempos em que aquele assunto não era mesmo discutido com os maiores envolvidos e interessados, e reuniões como aquelas não tinham o propósito de debater planos, mas de apenas e tão somente apresentar o que já tinha sido acertado.

Com a petulância que me era peculiar, não concordei. Discordei não porque não sabia do plano, mas porque realmente o achei muito ruim, tanto na concepção, quanto na inadequação de sua aplicação naquele momento.

Da minha parte, não foi uma mera discordância. Me posicionei claramente e chamei a discussão. Não sei de onde tirei coragem para encarar – diga-se de passagem, sozinho - aquela mesa, com toda a cúpula da BSGI. O que sei é que, na minha convicção, se não fosse naquele momento, não mais poderia fazê-lo. E fiz o que tinha que ser feito. A reunião foi encerrada.

Logo depois, um dirigente da BSGI me disse, em particular: Tadashi, se você diz certas coisas em determinadas ocasiões, corre o risco de se queimar. Respondi: se nesse nível de reunião eu não posso dizer o que penso, então não sei onde seria possível. Isso, aliás, contradiz tudo o que aprendi até hoje. O que menos me preocupa é se vou me queimar ou não. A mim foi dada uma responsabilidade que não pedi, mas a partir do momento em que a assumi, não é em meu nome que falo.

Depois, uma pessoa, de outra localidade, comentou comigo que haveria alterações em diversas organizações pelo Brasil, inclusive na dele. Disse que tinha ouvido falar que houve problemas com uma organização, com sérias discordâncias. Falei a ele que o ocorrido era verdade. Ele comentou: imaginei que só podia ter sido você. E emendou: quisera eu ter tido a mesma coragem.

Não tenho como saber se eu estava certo ou não. Talvez, se tivesse me calado, tudo pudesse ter sido melhor ou diferente. O que tenho é somente a convicção de ter feito o que deveria. Nunca me arrependi. Não carrego o peso da omissão. Aquela atitude me deu forças para, depois, nos anos que se seguiram, enfrentar de peito aberto os desafios que, eu nem imaginava, ainda estavam por surgir. De certeza, eu tinha perdido o medo.

Um comentário:

Hélio disse...

Muito interessante... a época mudou bastante mesmo... Abraços, com admiração!