sábado, 21 de fevereiro de 2009

As 3 noções centrais do budismo são a interdependência, a vacuidade e a impermanência.

A interdependência diz que nenhuma coisa pode existir em si, tudo está vinculado e conectado a todas as outras coisas.

A vacuidade é consequência direta da interdependência; não é o nada, mas ausência de existência própria.

E, segundo a impermanência, tudo no universo muda, se move e tem uma história, tudo evolui, tudo é impermanente.

A ciência se encontra completamente com esses 3 conceitos.

A mecânica quântica, uma das teorias subjacentes à física moderna, mostra que duas partículas, uma vez que interagiram juntas, conservam sua memória: mesmo que uma delas esteja agora em Andrômeda, a 2 milhões de anos-luz, e que a outra esteja aqui, se eu perturbar uma, a outra o sabe instantaneamente, sem nenhuma transmissão de informação. A realidade não é localizada e fragmentada, e sim holística e global. Isto é interdependência. Talvez possa explicar como o sentimento de uma pessoa é capaz de causar algum tipo de impacto em outra, mesmo que estejam separadas no tempo e no espaço.

A mecânica quântica diz também que as partículas que compõem um objeto qualquer – uma mesa, por exemplo – quando não são observadas existem sob a forma de ondas. Somente quando são observadas tornam-se partículas. É ao mesmo tempo, portanto, onda e partícula. O que quer dizer que as partículas não têm realidade intrínseca. Eis a vacuidade. Existência e não-existência.

A astrofísica constatou que tudo no universo muda, se move e tem uma história. O universo teve um início, tem um presente e terá um futuro. As estrelas são impermanentes: elas nascem, vivem sua vida e morrem, não na escala de tempo de uma vida humana de 100 anos, mas em milhares, até mesmo bilhões de anos. Tudo se move. Um objeto imóvel está, na verdade, cheio de elétrons que dançam e rodopiam, embora isso não possa ser observado a olho nu. Mesmo o espaço que nos rodeia está cheio de bilhões de partículas virtuais, ou seja, de partículas fantasmáticas que aparecem e desaparecem em ciclos de vida e de morte de frações de segundo. Tudo evolui. Tudo é impermanente.


Texto adaptado do livro Trinh Xuan Thuan – O agrimensor do cosmo,
da série Nomes de Deuses (Editora Unesp)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A religião do futuro será cósmica, trascendendo a idéia de um Deus existindo em pessoa e nascida da experiência de todas as coisas, naturais e espirituais. Se existe uma religião que pode estar de acordo com os imperativos da ciência moderna, é o budismo.

Albert Einstein

Das quatro grandes religiões do mundo, três são monoteístas, se baseiam na crença em um único grande e poderoso Deus: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

O budismo difere das demais linhas religiosas exatamente em seu ponto central, pois não está fundada na crença em Deus.

O budismo parte de uma experiência humana e pessoal, e não de uma revelação divina ou mística, e desse princípio decorre toda a linha de raciocínio de sua doutrina. Daí, talvez, dizerem que os budistas são ateus (muito embora nem todos admitam que, no final das contas, a crença mística em Deus – como de resto, todas as crenças – é, na verdade, fruto da mente humana).

O budismo surgiu há quase 2500 anos (0u 3000, dependendo da fonte), com Sakyamuni.

O sufixo “ismo”, de origem grega, é usado para ampliar o alcance de outra palavra. Quando falamos em evolucionismo, por exemplo, estamos nos referindo às idéias, ao raciocínio, ao sistema que fundamenta uma linha de pensamento científico – no caso, a teoria da evolução.

Ao acrescentar o sufixo à palavra buda – budismo – estamos falando da filosofia, da doutrina, dos ensinamentos do buda.

O sufixo “ista”, por sua vez, serve para qualificar uma pessoa, indicando-a como seguidora de um determinado sistema: comunista, marxista, fascista etc. Um budista é, portanto, um seguidor ou praticante dos ensinos do buda.

O conceito de Buda não é equivalente ao de Deus. “Buda” é um título dado a alguém como Rei, Duque, Mestre etc. “Buda”, no caso, é o título que se dá a uma pessoa que, por si próprio, atingiu a iluminação.

Budismo é, portanto, o ensino do Buda: é aquele que se iluminou ensinando outros a também atingir a iluminação (o que vem a ser iluminação é assunto para outras postagens).

Sidharta Gautama foi a primeira pessoa amplamente reconhecida como Buda. Nasceu príncipe, filho de reis, e pertencia a um clã chamado Sakya. Após atingir a iluminação foi chamado Sakyamuni (o sábio dos Sakya). Assim, ganhou o título Buda e ficou famoso como Buda Sakyamuni.

Depois de atingir a iluminação, Sakyamuni procurou ensinar o que havia aprendido, o que fez por quase 50 anos. O conjunto do que ensinou é o que historicamente se chama budismo. O mais correto seria chamar seus ensinos de budismo Sakyamuni.

Sakyamuni, na verdade, não foi o 1° buda, tampouco o único. Historicamente é, sim, o 1° buda conhecido e, portanto, é considerado o fundador do budismo. Mas, antes e depois dele, existiram outros budas, ou seja, outras pessoas também atingiram o mesmo estágio de vida e iluminação. A diferença talvez esteja no que cada um fez a partir de então.

Sakyamuni tornou concreta, com sua história e ensinamento, a possibilidade da iluminação do homem, e fez de sua própria iluminação uma saga de alcance extraordinário, no tempo e no espaço, que se propagou por séculos e se estendeu por todo o mundo, influenciando tudo o que veio depois, em todas as áreas do conhecimento e do comportamento humano.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A 1ª visita do presidente Ikeda ao Brasil foi em outubro de 1960.

A 2ª visita se deu após quase 6 anos, em março de 1966.

Depois, um grande hiato de quase 20 anos, durante o qual, principalmente por razões políticas – tempos de ditadura militar - o presidente Ikeda não teve permissão para adentrar no país.

Os mais veteranos devem se lembrar ainda da grande tristeza de 1974, quando um grande festival foi realizado e a cadeira do principal convidado estava vazia (ou melhor, na impossibilidade de sua presença, em seu lugar foi simbolicamente colocada uma foto) porque, às portas do país, seu visto de entrada foi negado.

Por longos 18 anos a BSGI carregou a frustração de não ter seu desejo realizado.

Assim foi que, para que a desejada vinda pudesse realmente se concretizar, a BSGI procurou se cercar também de outras garantias a seu alcance. Acredito que foi em meio a essa circunstância que acabou por acontecer a aproximação com um político, na época deputado federal, visando estreitar e possibilitar o acesso da BSGI ao governo de então.

Também em meio aos preparativos para o grande festival de 1984, no calor dos acontecimentos, houve a nomeação de um novo danshibutyo. Ao que parece, o político, por alguns motivos, se desgostou com o então coordenador da DMJ da BSGI e quis sua substituição.

Esta, na verdade, não é uma versão oficial. É somente a versão que correu em meio à divisão, e nem sei se é verdade. Mas foi mais um (forte) fato que, na época, fortaleceu a DMJ e aumentou a motivação de seus membros: responder à manobra do político unindo a divisão em torno de seus danshibutyos.

E a 3ª visita finalmente aconteceu em 1984, e o resto é história.

O tempo seguiu seu curso. O político há tempos desapareceu da cena nacional e nem importa mais saber seu nome. Hoje, aquele ex-danshibutyo e o novo responsável que o substituiu são, respectivamente, o presidente e o 1° vice-presidente da BSGI: Julio Kosaka e Naoto Yoshikawa.

E assim é que, 25 anos depois, a roda completou seu giro.