quinta-feira, 3 de julho de 2008

Maio de 1988. 20 anos atrás. Cidade de Monte Alto.

Era a primeira apresentação pública, o primeiro desfile em ruas das bandas juvenis da BSGI Ribeirão Preto - o Taiyo Ongakutai e a Nova Era Kotekitai. Era a estréia.

Não sabíamos bem o que nos esperava. A experiência era inédita e a expectativa era grande. Medo de errar não havia, mas a responsabilidade não era pouca. Afinal, estávamos ali em nome de uma instituição, carregando uma história que, se não era de conhecimento público, era muito cara a todos nós, que vínhamos na esteira de sonhos e objetivos projetados ao longo dos anos e que, claro, mesmo os inatingíveis, um dia iam se realizar.

E lá estávamos. Na verdade, pouco mais do que garotos e garotas, verdes e imaturos na vivência, mas repletos de vontade de ir além.

Várias semanas de ensaio em locais, por assim dizer, insalubres, como o pátio do Ceasa (e tudo o mais que isso implicava na época: distância e carência de transportes, muita poeira, vento, calor, falta de água, sanitários precários...) e as ruas no entorno do Teatro Municipal (apenas pouca coisa melhor do que o pátio do Ceasa). Tudo assim, bem no peito e na raça. Voluntarismo, boa vontade e abnegação.

Fizemos como sabíamos fazer. Na verdade, não sabíamos como fazer. O que sabemos, agora, é que fomos mesmo é atrevidos. Não havia conhecimento técnico de apresentações de rua (aliás, não havia conhecimento técnico para nenhum tipo de apresentação, mesmo as internas). Mesmo assim, fizemos o que tinha que ser feito: topamos, claro. E essa era uma das primeiras lições que se aprendia nos grupos horizontais: não se foge de uma boa briga.

Naquele domingo, saímos de manhã, em ônibus fretados. Alguns tiveram que sair de casa, quase de madrugada. Passados 20 anos, os momentos meio que se embaralham na memória, mas ainda perduram na lembrança como se tudo tivesse acontecido na semana passada. A manhã agradável, o pessoal chegando na escola que serviu como base. O café da manhã. A troca de roupas. Os uniformes. A reunião de partida, antes de sair para o desfile. As palavras de incentivo. A saída para o local da concentração. A concentração, momentos antes do desfile. Os incentivos mútuos.

Como já dito, não havia medo. Mas havia, claro, um frisson. Acho que ninguém deixou de sentir, em algum momento, aquele frio na barriga, o arrepio, aquele tremor na espinha. Inclusive o pessoal do apoio. Os rostos, as expressões de decisão, de fazer o melhor de algo que ainda não tinha sido feito, de fazer história.

E, quando vimos, lá estávamos, como gente grande, desfilando, marchando, tocando, valentes, cheios de vida, de energia, fazendo soar pelos céus da cidade os sons da paz, da juventude, da escola Soka.

A parada diante do palanque oficial. Se fizemos certo, como manda o figurino, não sei. Mas fizemos o melhor, com certeza. E, pelos olhares e comentários das pessoas, impressionamos. Não pela técnica, que não era mesmo apurada. Mas pelo porte, pelo garbo, pela jovialidade, pelo brilho do olhar, pelo estandarte orgulhosamente ostentado.

Passado o palanque, os quarteirões finais. A sensação de alívio que, acho, não preencheu apenas a mim, naqueles metros finais de rua. Antes do fim, um grande suspiro. Estava feito e acabado.

O final do desfile. As comemorações, os cumprimentos, a alegria, os abraços. Coisas de amador, se vistos por profissionais. Mas não éramos mesmo profissionais. Éramos jovens voluntários, idealistas, vibrantes, felizes. Cada um com seus dramas pessoais, com seus desafios e conquistas, carregava, sem o mínimo de constrangimento, uma história que merecia ser contada.

E foi contada assim, cada qual com seu instrumento, com seu uniforme, com sua marcha, com sua bandeira.

Naquele dia de maio de 1988, uma promessa foi cumprida.

Dois anos depois, no dia 19 junho de 1990, era a vez de Ribeirão Preto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Emocionante...pude estar um pouco em meio a essa "promessa cumprida"...por heróis ...obrigado!