sábado, 20 de setembro de 2008

Madrugada do dia 7 de setembro.
00:27 horas, quase meia noite.
Em casa, estudando.
Atendo o celular. A ligação não se completa. Ligo de volta.
Era minha irmã: Você está sabendo o que aconteceu com o Shimim?
Respondo que não. Ela continua: Ele teve uma parada cardíaca na estrada, no retorno de São José do Rio Preto. Estamos em Taquaritinga, no pronto socorro.
Pergunto como ele está. Ela não sabe.
Ouço ela dizer a alguém: Vocês me digam a verdade, como ele está?
Peço a ela para manter a calma e digo: Estou indo aí.

Entro para um banho rápido.
Dentro do banheiro ouço o telefone tocar novamente. Era alguém com a notícia.
Logo depois ligo para minha irmã. Ela diz, com voz trêmula: Tadashi, ele morreu. E agora?

E agora?!?
Não sei.Como vou saber? Não sei nem o que dizer.
Só pude manter a calma e repetir: Estou indo aí.

Disseram que naquele dia ele estava bem espevitado, mexendo com todo mundo – coisa que não era de seu feitio, ele gostava de participar, mas ficava sempre “na dele”. Talvez fosse a forma que sua vida havia encontrado para se despedir das pessoas: brincando e sorrindo.

Logo de manhã retornei à cidade de Taquaritinga, para acertar toda a documentação necessária. Antes, passei no velório, pois não sabia quanto tempo demoraria e a que horas estaria de retorno. Triste e ainda absorvendo o acontecimento inesperado, fui surpreendido com uma visão tranquilizante: ele tinha um sorriso no rosto.

Na Cerimônia de 7° dia de Falecimento, em nome dos meus irmãos e de toda a família, agradeci as manifestações de pesar, apoio e incentivos, e prestei uma homenagem com as palavras que seguem.

A morte.

A morte, na verdade, é uma grande certeza na vida. Havendo vida, haverá morte. Cedo ou tarde, ela sempre vem.

Se ela vem?, portanto, é uma pergunta descabida, da qual já sabemos a resposta. Quando ela vem?, talvez seja também uma pergunta impertinente, porque a ninguém é dado saber quando, afinal, ela virá.

E eis que, de repente, ela pode se postar diante de nós, nos deixar surpresos, em estado de choque, sem palavras, sem ar, sem chão.

Anunciada, de surpresa, bruscamente, tranquila, violenta... de alguma forma, certamente, ela virá.

A questão principal não é, portanto, se ou quando ela virá. A questão principal talvez seja como ela virá? E, quando chegar, como será recebida?.

Sêneca – filósofo romano - já dizia: Deve-se aprender a viver por toda a vida e, tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer. Heidegger – outro filósofo - escreveu que a vida humana é uma existência na direção da morte. Nitiren Daishonin ensinou: Aprenda primeiro a respeito da morte e, depois, sobre as outras coisas.

Os dois momentos cruciais da vida talvez sejam exatamente seus 2 pontos extremos: o momento em que ela tem início -o nascimento - e o momento em que ela se encerra – a morte. Na verdade, nascimento e morte são manifestações de um mesmo fenômeno, o fenômeno da vida, que é eterno.

E entre esses 2 pontos, está a manifestação da vida da pessoa. E a forma como essa vida se passou se manifesta exatamente no momento em que esse ciclo se finaliza, ou seja, o modo em que a pessoa encontrou a morte pode demonstrar o estado de vida em que ela viveu. Uma das provas evidentes dessa verdade é o aspecto do falecido. É a prova real.

Eu nunca tinha visto um falecido sorrindo. Acho que isso significa que ele morreu feliz.

Também, não podia ser por menos: ele morreu dormindo, ao lado da mulher da sua vida, no cumprimento da sua missão, na atividade em que ele mais se dedicava, e rodeado de amigos. Não, ele não morreu em casa, sozinho ou numa cama de hospital. O único ponto contra nisso tudo talvez seja o fato de que ele morreu corintiano. Mas aí já é mesmo uma questão cármica...

Eu o conheci ainda garoto. Ele era o namorado da minha irmã, com quem ficou casado por 31 anos. Eu era o garoto que pentelhava e atrapalhava o namoro. Ele nunca me repreendia, nem me chamava a atenção. Se bem que de vez em quando me mandava passear, perguntava se não estava na hora de eu ir dormir. Mas eu adorava estar perto dele. Era como se fosse um irmão mais velho. Ele era bom de bola. Até uma Brasília amarela ele teve.

Pode parecer estranho, mas ele, que gostava de resmungar e fazia tanto muxoxo, era também uma das pessoas mais generosas, atenciosas, cuidadosas e solícitas que conheci. O que, talvez, o tornava tão querido. Tanto que, ao seu redor - e isso é visível - ele espalhava amigos e amigos.

Há pouco tempo ele havia perdido seu pai. Antes, havia perdido sua mãe e seu outro pai – o meu pai – a quem ele sempre tratou com a consideração, atenção e amor como se filho realmente fosse. E era. Meu cunhado, meu amigo, meu irmão.

Vamos ter saudades dos jogos de baralho na mesa da cozinha; dos churrascos na sua casa; do último ano novo na praia... daquele jeito “meio pra dentro” de falar... Acho que cada um vai ter sua saudade particular dele. A prova disso é o enorme número de amigos que, tristes, foram se despedir.

Estamos tristes, mas não queremos chorar sua morte. Ao contrário, queremos celebrar sua vida. E nos despedimos assim, como você: com um sorriso nos lábios.

Vá em paz. Fique tranquilo. Obrigado por tudo.

Entre muitas considerações, um telegrama de condolências do presidente Ikeda e outro do Diretor Geral da SGI, sr Ohba. Postumamente, a nomeação como Responsável Honorário de Distrito. A distinção com o plantio de uma árvore no Centro Cultural Campestre. E, o mais importante, as inestimáveis manifestações de carinho, apoio e incentivos de incontáveis amigos.

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