sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A jornada de Kamakura a Kyoto leva 12 dias.
Se viajar durante 11 dias e parar antes de completar o 12° dia,
como poderá admirar a lua da linda capital?
(carta a niike – nitiren daishonin)

Anos atrás li, num artigo do psicanalista Contardo Caligaris, sobre o princípio do tipping point.

Tipping point é um termo da sociologia. Diz respeito ao ponto em que um sistema estável se desequilibra. É a gota d’água, o ponto de ruptura, o ponto de desequilíbrio. É o momento em que o líquido transborda.

Não é preciso que algo espetacular aconteça. O ponto crítico pode se dar a partir de uma ocorrência banal, mas na esteira de uma série de outras ocorrências. Aí, finalmente, quando o cenário estiver pronto, um evento qualquer pode romper o equilíbrio do sistema.

O sociólogo Malcolm Gladwell expôs o princípio no livro O Ponto de Desequilíbrio: como pequenas coisas podem fazer uma grande diferença. Num artigo publicado no The New Yorker, em 1996, Gladwell deu como exemplo a garrafinha de ketchup: o parâmetro de inclinação da garrafa pode aumentar sensivelmente, sem que uma gota caía no prato. De repente, um aumento milimétrico da inclinação pode produzir um dilúvio inesperado de ketchup, completamente fora de proporção com o último gesto. O ponto onde isso acontece é o tipping point.

Um clássico artigo publicado em 1991 no American Journal of Sociology, por Jonathan Crane, mostra que, quando em uma zona urbana pobre o número de residentes profissionais ou trabalhadores qualificados de classe média cai abaixo de 5%, repentinamente dobram os números de adolescentes que abandonam a escola e o de adolescentes grávidas. Cinco por cento é o tipping point: entre 45% e 5% de moradores de certo sucesso, as percentagens de abandono escolar e gravidez variam de maneira pouco significativa. Abaixo de 5%, os adolescentes não acreditam mais nas regras do jogo: faltam-lhes imagens ideais.

Caligaris perguntava, em seu artigo, se a violência urbana no Brasil tinha chegado a um tipping point.

Se, de fato, há algo como um tipping point, poderia ser aplicado para o bem ou para o mal. Seria, talvez, como o centésimo macaco a lavar as batatas antes de comê-las. Talvez, ainda, uma linha invisível unindo as pessoas, perspassando as coisas. Sincronias.

Qual será o tipping point para se transformar uma sociedade ignorante, violenta e descuidada numa sociedade educada, pacífica e tranquila?

Por outro lado, se há um tipping point social, deve haver também um tipping point individual. Na orientação do presidente Ikeda, quando um certo limite crítico é atingido, tudo pode mudar de um só golpe. Pode ser que este princípio seja inerente a toda vida.

Haveria um tipping point intelectual? Um espiritual? Um financeiro?

A iluminação seria um tipping point?

Qual será o meu tipping point, o ponto a partir do qual posso mudar tudo, de um só golpe? Como não sei, é preciso então o esforço diário, na direção do ponto crítico, que pode estar ali na frente, ou um pouco mais adiante. É por isso que, às vezes, um a mais pode fazer a diferença: um encontro a mais, um minuto a mais, um esforço a mais, um sorriso a mais, uma palavra a mais, um incentivo a mais.

Ou o contrário: um minuto a menos, um esforço a menos, um sorriso a menos.

E tudo pode desabar.

Ou se erguer, definitivamente.

2 comentários:

Hélio Y. Fuchigami disse...

SUBARASHI!!!
Incrível como você costura os assuntos consistentemente...
Abraços!

Flor de Bela Alma disse...

Maurício, é preciso fina sensibilidade para perceber um minuto a mais e um sorriso a mais. Eu aposto em você sempre!E acredito na sua aposta em mim. Isso é bonito! Um beijo: Bia