terça-feira, 11 de março de 2008

Parece que, ao pensar e escrever sobre coisas que se foram, o passado começa a remoer em algum lugar, dentro da cabeça. No meu caso, quase que saltou para fora. Lembrei de acontecimentos, pessoas, lugares, objetos, com uma estranha riqueza de detalhes. Detalhes dos quais, aliás, eu nunca tinha me dado conta. E que eu nem sabia que sabia.

Lembrei-me de uma noite em que - ainda moleque, quase criança - depois de uma reunião, a pedido do meu pai, acompanhei uma senhora - dona Teresinha, grande pioneira e veterana de São Joaquim da Barra – do bar até a rodoviária. Acho que fomos eu e meu irmão. Não sei porque isso ficou marcado na minha memória. Imagino até que não tenha sido bem como ficou gravado. Mas, ao retornar, devo ter ficado orgulhoso com a sensação do dever cumprido e de ter podido ajudar alguém. Deve ter sido a primeira vez que fiz algo por alguém, sem ganhar nada em troca. Até então, ou alguém me levava, ou eu ia sozinho. Nunca tinha levado ninguém a nenhum lugar. E, ao lembrar da dona Teresinha, imediatamente lembrei do sr. Lauro, seu falecido marido. Magro, alto e, na minha lembrança de criança, sempre sorridente. Nem sei se ele era mesmo magro e alto, mas é essa a imagem que ficou marcada.

Como a imagem do sr. Acílio, sempre com seu guarda-chuva. E sempre com um caderno ou um livro na mão. E a sra. Hamamura – a dona Cristina - no box do mercadão, sorridente e atenciosa e, mesmo de avental, sempre com um porte elegante. O sr. Joaquim Taschetti, com seu bigodão, que não consigo lembrar de ter visto alguma vez desacompanhado da dona Carlota. Tantos outros, muitos nomes e sobrenomes... Altino, Oscar, Higino, Geraldo, Odila, Mauro, Luis, Senju, Yoshitome, Ushirobira, Ishizaki, Tokairim, Tawada, Nemoto, Saito... Aliás, os casais Nemoto e Saito eram os velhinhos mais velhinhos e mais vigorosos e mais simpáticos e mais ternos que já conheci... Lembro de seus movimentos lentos e seguros, de suas mãos de avós, cumprimentando, acenando, afagando... Quanta história, quanta riqueza...


Acho que naquele tempo todos eram sorridentes: só consigo lembrar deles assim, com um sorriso no rosto. Até a lembrança do sr. Abe, que não falava português e cuja feição sempre me remeteu ao sr. Makiguti, só me aparece sorrindo.

Minhas reverências a meus preciosos professores.

Um comentário:

Flor de Bela Alma disse...

Querido, você vê beleza em tudo e em todos. Sempre consegue extrair o melhor de cada ser humano. Sei que para uma mulher inquieta e sempre em ebulição, um budista está de ótimo tamanho!! Risos...Te amo! Bia