terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Meditação muda estrutura do cérebro

Estudo de Harvard mostra, pela primeira vez, que a prática pode aumentar a concentração de massa cinzenta.

De olhos fechados, em silêncio e, de preferência, sentados, os praticantes da meditação plena devem se concentrar em apenas uma coisa: a respiração. A técnica é antiga, da tradição budista, mas começou a ser difundida depois de ter sido usada em um curso não religioso de redução de estresse, criado em 1979 por Jon Kabat-Zinn, professor da Escola Médica da Universidade de Massachussets.

Os benefícios da técnica, conhecida também como “mindfulness”, já foram relatados em vários estudos. A lista vai da melhora de sintomas de esclerose múltipla à prevenção de novos episódios de depressão. Mas, agora, um estudo mostra, pela primeira vez, os efeitos provocados no cérebro por essa meditação. E o mais importante: as mudanças ocorreram em apenas oito semanas de meditação em praticantes adultos iniciantes.

A pesquisa foi feita pela Harvard Medical School, nos EUA, em conjunto com um instituto de neuroimagem da Alemanha e a Universidade de Massachussets.

As conclusões foram feitas após comparações entre as ressonâncias magnéticas dos que praticaram a meditação e as de um grupo-controle que não fez as aulas.

Outros estudos já haviam sugerido que a meditação causa mudanças no cérebro, mas eles não excluiam a possibilidade de haver diferenças preexistentes entre os grupos de meditadores experientes e não meditadores. Ou seja, não era possível afirmar se os efeitos eram causados pela prática.

Todos os participantes da pesquisa, com idades de 25 a 55 anos, deveriam obedecer a um critério: não ter feito nenhuma aula de meditação “mindfulness” nos últimos seis meses ou mais de dez aulas em toda a vida. Eles frequentaram oito encontros semanais, com duração de duas horas e meia. Também foram instruídos a fazer 45 minutos de exercícios diários e a praticar os ensinamentos da meditação em atividades do dia a dia, como andar, comer e tomar banho.

Para avaliar as mudanças, todos os participantes e o grupo-controle fizeram ressonâncias magnéticas antes e depois do período de aulas.

Os exames iniciais não indicaram diferenças entre grupos, mas as ressonâncias feitas após o curso mostraram um aumento na concentração de massa cinzenta no hipocampo esquerdo naqueles que haviam meditado. Análises do cérebro todo revelaram mais quatro aumentos de massa cinzenta: no córtex cingulado posterior, na junção temporo-parietal e mais dois no cerebelo, mudanças que podem significar uma melhora em regiões envolvidas com aprendizagem, memória, emoções e estresse. O aumento da massa cinzenta no hipocampo é benéfico porque ali há uma maior concentração de neurônios.

Antes acreditava-se que a pessoa só perdia neurônios durante a vida. Agora vemos que eles podem brotar em qualquer fase da vida, e determinadas atividades fazem a estrutura do cérebro mudar. Isto significa que o cérebro adulto também é plástico, capaz de ser moldado.

No ano passado, um estudo dos mesmos pesquisadores já mostrava redução da massa cinzenta na amígdala cerebral, uma região relacionada à ansiedade e ao estresse, em pessoas que fizeram meditação por oito semanas. Mas, provavelmente, qualquer um que começar a meditar amanhã terá esses mesmos efeitos benéficos em algumas semanas.

Não é só a meditação que é capaz de mudar a estrutura do cérebro. Outros estudos já mostraram que o aprendizado de novas habilidades podem levar a alterações na massa cinzenta. Essas mudanças não são específicas para a meditação. O cérebro é plástico, muda com tudo que fazemos. Durante a atividade física, por exemplo, são liberadas sustâncias que estimulam o crescimento neuronal. O aprendizado de novos conhecimentos também leva a essa reação.

Em caso de derrames, por exemplo, as regiões adjacentes à lesão podem se moldar para compensar a perda. No entanto, não se sabe se essas mudanças são temporárias. Um estudo afirma que alterações na estrutura do cérebro podem durar apenas algumas semanas. Logo depois, os tecidos voltam ao estado normal. Portanto, para que as modificações durem, o cérebro precisa de constante estímulo.

folha de são paulo – 30/01/2011
reportagem publicada na página c18 (transcrição parcial)

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