quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sempre dei muita importância ao registro dos acontecimentos e dos dados. Dados e números são importantes para que possamos entender o que e como as coisas acontecem, para melhorar, visualizar e até mesmo objetivar e planejar com segurança o que ainda vem pela frente.

O avanço se dá quando se vai adiante do ponto que se atingiu até então. É desnecessário ter que percorrer caminhos cometendo os mesmos equívocos ou sacrifícios de quem já passou por ali. É marcha adiante, dali para frente. Por isso, é importante conhecer o que já foi. Aprender com a experiência.

Quem tem informações precisas e sabe analisar dados, quase pode adivinhar o que vai acontecer. Embora possa não parecer, é simples assim. O que não quer dizer que não seja trabalhoso.

Já tive a pretensão de criar algo que pudesse servir como fonte de consulta, informação e inspiração. Algo como um repositório que reunisse fotos, áudios, vídeos, relatórios e outras formas que pudessem servir de arquivo. Dispersas, as informações não tem nenhuma serventia.

Muitas fotos foram tiradas e reveladas, com a esperança de que pudessem ser convenientemente cuidadas. Não sei o fim que tiveram as centenas, talvez milhares de fotos que contavam boa parte de nossa história. As muitas fitas de vídeo-cassete gravadas devem estar totalmente inutilizadas.

Mas a grande perda são as pessoas que viveram a história com suas próprias vidas e que, por falta de interesse ou de cuidado de quem por aqui ficou, se despediram levando junto vivências que nunca mais poderão ser conhecidas ou resgatadas. Pioneiros e veteranos, cujos nomes não é necessário citar, cuja memória não está mais entre nós.

Um dia, anos atrás, quis saber um pouco, diretamente da fonte original. Fui até Mombuca, ouvir e aprender com o sr Takeo Abe, de quem soube histórias extraordinárias de coragem e dedicação, dos primeirissimos primeiros passos dados por aqueles que se puseram a desbravar um caminho, há quase 45 anos.

Ele contou, dentre outras coisas que, em Mombuca, eram apenas 3 ou 4 as famílias que praticavam o budismo Nitiren. Os demais imigrantes da colônia não tinham interesse em ouvi-los, muito pelo contrário. Resolveram, então, sair da colônia, em direção à cidade. Para irem até a estrada a fim de pegar o ônibus, tinham que passar pelas casas das pessoas, que antipatizavam com eles, xingavam e jogavam coisas sujas em suas roupas. Por isso levavam, em bolsas, roupa limpa para se trocarem, quando estivessem mais próximos da estrada.

Geralmente tinham apenas o dinheiro da passagem de ida. Para a volta, levavam produtos que pudessem vender, a fim de comprar a passagem de volta. Nenhum deles falava português, e as primeiras pessoas que procuraram eram outros japoneses que conseguiam encontrar na cidade.

Uma parcela da história, contada assim, rápida e resumidamente, logicamente não vai nunca poder transmitir um mínimo do que foi vivenciar aquilo.

Mesmo para quem pôde ouvir diretamente de quem tinha protagonizado aqueles momentos, é difícil realmente saber a dimensão de tudo aquilo. Mas quando você vê um velho disco de vinil, onde estão gravadas orientações do presidente Toda, em sua própria voz, ou segura um antigo certificado de nomeação assinado pelo presidente Ikeda, você tem uma boa ideia de quanta história está ali, na sua frente. E o brilho do olhar, a força e a vibração da voz, o orgulho com que ele contava tudo aquilo já era, em si, uma riquíssima, inesquecível e excepcional lição de vida, de onde é possível extrair um aprendizado impar que, de alguma forma, também passa a fazer parte de você.

Um comentário:

Ricardo Macagnan disse...

Olá, Tadashi.
Falando em Mombuca me lembro da saudosa senhora Higuchi, carinhosamente chamada por nós de Cravinhos como a "Vovó Higuchi". Lembro de ouvir ela contar a sua história, devidamente traduzida pelo seu filho Hideo, das dificuldades enfrentadas não só aqui no Brasil mas também na viagem para cá. Ao ouvir seus relatos, sua fé e dedicação, nos sentíamos como se fôssemos filhotes protegidos por uma valente e destemida leoa. Lembro-me também do carinho que dispensava a cada um de nós, de seu sorriso amigo e de seu abraço caloroso. Impossível não encher o coração de alegria e saudades ao lembrar da "Vovó Higuchi"!