sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Abril de 1999.

Iniciávamos os preparativos para participar de um grande encontro nacional da Divisão dos Jovens, programado para outubro, no Centro Cultural Campestre da BSGI.

A princípio seria realizado um festival, transformado depois na Convenção Cultural dos Jovens da BSGI.

A então RM Ribeirão Preto ficou com 40 vagas para participação direta, como figurantes – 20 da DMJ e 20 da DFJ. Além disso, nos grupos horizontais, mais 3 participantes do Gajokai, 7 do Sokahan, 20 do Taiyo Ongakutai, 2 do Grupo Cerejeira e 6 da Nova Era Kotekitai, num total de 78 pessoas, distribuídas de tal forma que todas as comunidades/localidades estivessem representadas.

Releio a lista de 78 nomes, lembrando de cada fisionomia. Alguns não vejo há muito tempo. Como estarão eles? Será que ainda se lembram? Sei que alguns nunca mais tornarei a ver.

Nossa reunião de partida foi no dia 17 de abril, na antiga sede regional. Compartilhei com os presentes as lembranças da minha participação no histórico festival de 1984. Fizemos um pacto, entre os participantes, de que nenhum de nós iria: 1. falhar no gongyo e daimoku diários; 2. sofrer acidentes; 3. adoecer. A partir daquele dia nos encontrávamos aos domingos na sede regional, sempre às 18 horas, e juntos orávamos pela vitória de cada um e pelo sucesso da convenção.

Duas semanas depois, dia 2 de maio, foi a reunião geral de partida, reunindo representantes de todo o Brasil no Centro Cultural Campestre. De Ribeirão Preto e localidades foi um grande e ruidoso grupo, vestidos com uma camiseta que preparamos para o evento, com os dizeres BRASIL PRIMAVERA 99 na parte da frente (saudando e antecipando o encontro em outubro) e, atrás, RIBEIRÃO PRETO. Naquele dia fizemos muito barulho.

De abril a outubro vários ensaios e atividades.

No meio do ano, no dia 06 de junho, um show musical comemorando o jubileu de prata do mais velho núcleo do Taiyo Ongakutai do interior da BSGI: o de Ribeirão Preto.

05 de julho. Gongyo matinal com um amigo. Durante 100 dias acordei mais cedo do que de costume e fui à sua casa realizar a oração da manhã, antes de sairmos para o trabalho. Afinal, havíamos feito um pacto de que não falharíamos no gongyo diário.

Agosto, setembro...

16 de outubro, sábado. Ensaio geral e preparativos finais no Centro Cultural Campestre da BSGI. Durante o dia dialoguei por longo tempo com Sadao Kato, o então coordenador da DJ da BSGI.

[Sadao foi meu danshibutyo e, depois, seinembutyo. Ele foi um líder em quem confiei totalmente, sem ressalvas. Tipo raro de pessoa, Sadao estava muito acima de qualquer suspeita. A conversa com ele era sempre olho-no-olho, coisa que nem todo mundo podia fazer.

Um dia, depois dele ter enfrentado e vencido um gravíssimo problema de saúde, já em franca recuperação, dei-lhe um cartão com uma famosa frase de Bertold Brecht: Existem homens que lutam um dia e são bons; existem outros que lutam um ano e são melhores; existem aqueles que lutam muito mais e são muito bons; porém, existem os que lutam toda a vida. Esses são imprescindíveis.

No verso do cartão, escrevi: Nobres são as pessoas, e nobre é a história que elas criam. Obrigado, Sadao. Obrigado por sobreviver. Poucas são minhas realizações, mas ter lutado com você é um dos grandes orgulhos da minha vida. Vençamos, sempre.]

A programação da convenção incluía, naturalmente, suas palavras como coordenador da DJ da BSGI. Ele tinha dito que era seu desejo declamar o famoso poema do encontro do jovem Daisaku Ikeda com Jossei Toda. Disse que sempre quis fazê-lo e a ocasião não poderia ser mais propícia.

A seu pedido auxiliei-o na preparação de seu discurso. Não nos lembrávamos do poema integralmente. Tampouco havia lá material em que pudéssemos pesquisar, nem podíamos ainda recorrer à internet. O socorro veio de um dos grandes colaboradores que tive na DMJ, de quem eu já conhecia a memória prodigiosa: meu amigo Wilson, grande veterano do Sokahan, que recitou o poema sem pestanejar.

Era quase meia noite quando finalizamos tudo.

17 de outubro de 1999, domingo.

A Convenção Cultural dos Jovens da BSGI tem início sob chuva. Nas palavras do sr Eduardo Taguchi, eram os deuses derramando lágrimas de alegria pela reunião de 10.000 bodhisattvas.

Desenrola-se um maravilhoso show musical, com vibrantes e maravilhosas apresentações.

O emocionante juramento dos discípulos.

Seguem-se os cumprimentos dos dirigentes e, finalizando, as palavras do Sadao.

Até hoje lamento o fato de, no momento em que as folhas de papel escaparam de suas mãos, mesmo estando perto e bem atrás dele, não ter tido a presença de espírito de recolher os papéis e, rapidamente, recolocá-los em ordem em suas mãos. Mas ali era o Sadao e, como quem é rei nunca perde a majestade, o papel que ficou em suas mãos foi exatamente a folha com o poema, que foi lido então para 10.000 jovens, ecoando em meio ao Centro Cultural Campestre pela voz vinda direta do coração de um leão.


Ó viajante!
De onde vens
e para onde irás?

A lua desce
no caos da madrugada,
mas vou andando,
antes do sol nascer,
à procura de luz.

No desejo de varrer
as trevas de minha alma,
procuro a grande árvore
que nunca se abalou
na fúria da tempestade.

Nesse encontro ideal,
sou eu quem surge da terra.

Primavera de 1999.
O nosso “Festival da Chuva”.
Quem estava lá ainda deve se lembrar.

2 comentários:

Hélio Y. Fuchigami disse...

E como poderíamos não nos lembrar... sim, marcou profundamente as nossas vidas!!!
Tadashi, muito obrigado por mais esta preciosa postagem!!!
Grande abraço catalano
Hélio

Anônimo disse...

Olá, Tadashi!
Alegria indescritível em reencontrá-lo depois de muitos anos. Impossível não ler suas postagens e os olhos não encherem de lágrimas. Ao ler cada uma delas me vem à mente um pouco da minha própria história, a inauguração da Sede Regional Ribeirão Preto, dos companheiros, Milton, Wilson, Franco, Martinez, Paulo (PC) e tantos outros com os quais tive a honra de fazer parte da história da BSGI Ribeirão Preto! As atividades realizadas em ginásios, locais públicos, os plantões (Keibi) na Sede Regional, as palavras dos veteranos (nossos pais e mães desta família), a fundação do Sokahan da qual por motivo de viagem e trabalho não pude comparecer; uns óculos redondos "a la Toda Sensei" que você usava...
Coincidência ou não, encontrei seu blog quando procurava no Google sobre a frase: ..."a jornada de Kamakura a Quioto dura doze dias. Se viajar onze dias e desistir no meio do caminho, como poderá admirar a lua da capital?". Sei que isto deve ter um significado místico, talvez agora não o entenda mas certamente saberei na hora certa. Um abraço caloroso!

Ricardo Macagnan

Nova Bréscia - RS