quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Em fevereiro de 1984 eu atuava como vice-responsável da DR (hoje DMJ) do subdistrito Franco da Rocha.

(O nível da estrutura organizacional chamado “subdistrito” não existe mais, em seu lugar foi implantada a comunidade, para possibilitar às pessoas a participação em atividades em locais mais próximos de suas residências. Para implantação do sistema de comunidade, a BSGI toda foi reestruturada, primeiro em São Paulo, em torno da sede central. No interior da BSGI, Ribeirão Preto foi a primeira localidade a implementar a nova estrutura, num extraordinário trabalho de levantamento geral de famílias e recomposição organizacional e, hoje, é quase inacreditável que tudo tenha sido feito à base de lápis, borracha, caneta, máquina de escrever, fichas, papel sulfite, carbono. E muita vontade de acertar.)

À época e desde sempre, eu ouvia as histórias da 1ª (1960) e da 2ª (1966) visitas do presidente Ikeda ao Brasil, e a frustrada 3ª visita que, passados muitos anos, ainda não tinha ocorrido.

Pois era chegado o momento. A BSGI (na época ainda com a velha denominação de NSB) se movimentava em torno da ansiosamente aguardada 3ª visita do presidente Ikeda. Um grande festival estava sendo preparado para a ocasião e, claro, todos queriam participar.

O agitado final de 1983 e início de 1984 foi todo preenchido com os preparativos e ensaios para o festival. Os ensaios eram realizados em São Paulo, nos finais de semana. Às 5ªs feiras realizávamos as reuniões de daimoku (que chamávamos de shodaikai) na rua Paraíso (então residência da família Suzuki que, depois, se tornou a antiga Sede Regional). A maioria do pessoal participava da atividade de pé mesmo: não cabiam todos, e ficava mais gente fora do que dentro da sala - no alpendre, ao lado da janela, na calçada. Na sala superlotada o calor era quase insuportável, mas a atividade era imperdível de tanta animação – logicamente ainda nem podíamos imaginar o que seria realizar uma reunião numa sala ampla, com as pessoas devidamente acomodadas em cadeiras confortáveis, com ar condicionado...

Os ensaios aconteciam em praticamente todos os finais de semana, em São Paulo, e os participantes que faltassem corriam o risco de perder a vaga.

Todas as pessoas da localidade de Ribeirão Preto e região que participavam dos ensaios, o faziam como figurantes, exceto 4: eu, meu irmão Celso e mais 2 companheiros de desafio - o Antonio Quintilhano (já falecido) e o Moura.

O desafio dos 4 foi realmente grande, pois nosso objetivo era participar do seiri. Ocorre que o seiri era responsabilidade do Sokahan (grupo que à época tinha pouco mais de 1 ano de existência no Brasil), e não éramos membros do grupo (Celso, na verdade, fazia parte do Sokahan, pois estudava em São Paulo e lá tinha residência e atuação, tendo sido, inclusive, um dos fundadores do grupo – mas, como estava sempre em Ribeirão Preto, constantemente viajávamos juntos).

Quase todo o pessoal viajava em grupo, com ônibus fretado. Mas nós sempre íamos separados dos demais, em ônibus de linha, porque tínhamos que chegar antes (pois o seiri é o primeiro que chega, e o último que sai). Nosso retorno também era separado, sempre chegávamos em Ribeirão Preto muito depois.

Acho que éramos os únicos participantes do seiri que não moravam em São Paulo. E o fato de sermos do interior não nos conferia nenhuma regalia ou tratamento diferenciado. Até pelo contrário. Aliás, fomos autorizados a participar do seiri advertidos para o fato de que seríamos considerados como os demais, todos moradores em São Paulo, ou seja: locomoção, pernoite, alimentação, seriam tudo por nossa própria conta e risco. E nenhum privilégio como chegar mais tarde ou ir embora mais cedo do seiri. Só retornávamos depois de finalizados os trabalhos, e a dispensa geralmente se dava em uma reunião geral de encerramento.

Era extenuante. Depois de um final de semana movimentado, ainda tínhamos que nos deslocar para a rodoviária, noite adentro, cansados, com fome, sem dinheiro. Mas tudo era também apaixonante. Aliás, tudo era movido à paixão. O que nos fazia superar cansaço, fome, sede, incômodos.

25 anos depois, tudo retorna à minha mente: minha velha mochila de lona verde, minha roupa branca de seiri, as viagens nos ônibus do Cometa ou da Rápido Ribeirão, o frescor das madrugadas quando chegávamos no terminal rodoviário do Tietê, o metrô, o trajeto da rua Vergueiro até o Centro Cultural na rua Tamandaré, a parada na padaria da esquina para um pão com manteiga na chapa e um pingado, os deslocamentos na carroceria do caminhão de materiais, os ensaios, a movimentação, as pessoas chegando, ensaiando, lanchando, descansando, indo embora para suas casas, os pernoites nos locais mais inusitados, os companheiros mais incríveis que se pode conhecer, as brincadeiras, a seriedade, a rigorosidade, os treinamentos, os desafios, a sinceridade. Raríssimas oportunidades, numa extraordinária escola de vida, com aulas dinâmicas, intensas, reais.

E, 25 anos atrás, fevereiro de 1984 chegou.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vamos reviver 1984 no próximo 03 de maio!!!

paulo oshiro - curitiba-pr disse...

É isso aí Tadashi. Também pude ter essa medalha de ouro na minha vida. Como membro do Ongakutai. Que luta maravilhosa não? Parabéns!!

Paulo Oshiro - Curitiba-PR