segunda-feira, 24 de novembro de 2008

No dia 18 de novembro – data da fundação da Soka Gakkai - meu pai faria 87 anos. Recebi um e-mail afetuoso que segue abaixo, com minha resposta.

Oi, tudo bem?

Li no seu blog sobre seu pai.
Gostaria de também compartilhar meus sentimentos sobre ele que, para mim, foi um verdadeiro pai.

Tive a boa sorte de encontrá-lo em minha juventude, pois ele me conduziu à prática da fé e ao caminho de mestre e discípulo.

O Grande Mestre Tientai afirma: "Um doutor superior ouve a voz de um paciente para diagnosticar sua doença (...), um doutor médio o faz observando a coloração facial e a fisionomia, e o doutor inferior examinando o pulso" (BS 1064).

Tal como um médico superior, seu pai ia diretamente ao ponto essencial da doença (espiritual) e, com seu jeito rigoroso e sem rodeios, desestruturava qualquer casa mal construída e, então, com sua benevolência, ajudava a reerguê-la firme e imponente, como um castelo - o castelo da felicidade.

Ele era assim, sua fala continha muitos significados simbólicos, era preciso muita reflexão para entendê-lo. Mas quem conseguiu entendê-lo, hoje permanece fiel a todos os princípios éticos que ele ensinou.

Era um mestre na arte de ensinar, pois nos fazia buscar nas profundezas da vida o significado de seus diálogos. Era como Sakyamuni usando as parábolas para conduzir seus discípulos ao estado de Buda.

As parábolas incitam a imaginação, quebram pré-conceitos, abrem a percepção e formulam novos conceitos, e neste ritmo dialógico, a pessoa vai se refazendo, se construindo, se transformando...

Diz-se que "o espaço é a condição necessária para o movimento, e o movimento a condição fundamental para a mudança". Então, no espaço do diálogo com o seu pai criou-se uma onda de movimento de grandes valores humanos.

Quantas saudades!

Tive o privilégio de ganhar sete pedrinhas do túmulo dos Três Mártires de Atsuhara. Na ocasião, ele me disse: "Essas pedras tem um profundo significado". Era 10 de setembro de 1990. Guardo essas pedras como um tesouro. Quando as vejo, um misto de nostalgia invade meu ser. Ali estão contidos: perseverança, lealdade e coragem.

Sou grata ao sr. Sakamoto!

Com carinho, Maria José.

Olá.

Obrigado pelas palavras carinhosas. Também sinto saudades do meu pai.

Embora fosse meu pai, na juventude convivi pouco com ele. Desde cedo percebi que ele não poderia me dispensar muita atenção e, tanto eu como meus irmãos, aprendemos que aquele pai não nos pertencia.

Sempre tive muito orgulho de tê-lo como pai, e apenas nos últimos anos é que pudemos conviver com um pouco mais de proximidade, de forma mais livre, e pude reconhecer com mais clareza sua grandeza de espírito.

A forma corajosa e magnânima com que ele lidou e enfrentou a doença me deixou profundamente comovido. Fui um observador privilegiado de um homem que transbordava energia e amava a vida, sempre repleto de vibração, e que se recusava a ser derrotado. Conservo a visão de seus últimos dias, já impossibilitado de falar, com o corpo já enfraquecido pela idade e pela doença, mas com os olhos brilhando de vida.

Às vezes parece que ainda o vejo por aí, caminhando pelas ruas daquele seu jeito rápido de andar, meio que arrastando os pés.

Às vezes acho que ele ainda está por aí, nos observando, calado. E acho que às vezes ele se orgulha, outras vezes ele se preocupa... mas sempre com aquele ar de quem cumpriu seu trabalho, sem dever nada a ninguém... e com os olhos faiscando de rigorosidade e benevolência...

3 comentários:

Flor de Bela Alma disse...

Meu amor, eu chorei ao ler isso aqui- pedaço de você cheio de vida e poesia. Também sinto saudades dele, e ele nem foi meu mestre, mas me ensinou coisas importantes e me deu você. A coisa mais bonita que eu ouvi na vida foi: O Tadashi nem sorri quando vc está longe dele! Ganhei o dia e ganhei a vida quando ele me disse isso. Eu choro agora, mas é uma emoção bonita, um afeto enorme que sinto. Nunca fui tão bem recebida nessa vida e nunca vi pessoa mais bondosa que o Sr. Sakamoto. O sakamotinho tá se saindo igualzinho ao pai! Beijo com amor! Bia

Flor de Bela Alma disse...

Lindo, eu escrevi para vc no blog! A postagem com a ilustração da Lucy, que sou eu, é claro! Te amo! Bia

Anônimo disse...

Lindos depoimentos... me sinto com saudades de não tê-lo vivido! Obrigado