quarta-feira, 2 de abril de 2008

Quando criança acompanhava meus pais em todas as reuniões, e gostava quando elas aconteciam na casa da sra Tokairim (dona Catarina era seu “nome” em português). Era uma casa grande, na rua Mariana Junqueira, com uma ampla sala. Um estreito e alto portão de grades de ferro na entrada da rua. Subiam-se 3 degraus. No corredor de entrada, do lado direito, um aquário que era uma espécie de pequena piscina, feita com tijolos e pedras, com peixes e plantas ornamentais, em meio a um jardim com um pé de romã. Era uma casa meio misteriosa, com alguns segredos. Muitos quartos e um monte de gente estranha: lá funcionava uma pensão. Sempre achei que a casa tinha outra entrada; eu era curioso para descobrir onde era, mas o lugar tinha uns lugares que a gente não tinha permissão para adentrar.

Me lembro da sra Tokarim já viúva, não me recordo do seu marido. Mas sei que foi através do casal que, depois de mais ou menos 3 anos, meu pai decidiu se converter ao budismo, o que ocorreu no dia 28/02/69.

O local – a pensão da dona Catarina - centralizava as atividades do que seria hoje uma comunidade. Reuniões maiores eram numa escola, no centro da cidade, o SERP (não sei o que significava a sigla, todo mundo chamava o local assim mesmo, SERP, mas acho que devia ser algo como Sociedade Educacional de Ribeirão Preto). Lembro de outras reuniões, de maior porte, no salão social da Associação Nipo-Brasileira (ficava na Rua Paraíba, onde também funcionava o cinema em que eram exibidos filmes japoneses). Tempos idos e bem distantes e, evidentemente, nem o maior dos visionários poderia imaginar, à época, algo como o atual Centro Cultural da BSGI de Ribeirão Preto, com suas várias salas e um amplo auditório com poltronas almofadadas, sistema de som, ar condicionado, elevador e muitos outros recursos.

Eu não assistia e nem participava das reuniões. Criança, ia mesmo para bagunçar e brincar com os outros garotos. Mas, nas reuniões maiores, quando a banda tocava, eu ficava de olho. A banda, no caso, era o início do início do Ongakutai: umas 4 ou 5 pessoas, “tocando” as canções da Soka Gakkai com um trompete, um clarinete, uma caixinha, um surdo e um par de pratos. A técnica era pouca, mas a vontade era muita. Em 1974, quando o Ongakutai de Ribeirão Preto foi fundado (o 1° fora da capital de São Paulo), eu tinha 11 anos de idade.

Aos 13 anos devo ter percebido que já estava ficando mais “rapaz” e resolvi praticar o budismo com seriedade. Lembro que tinha ouvido minha mãe comentar sobre um garoto que estava praticando o budismo e participando das atividades e, na minha mocidade, também quis ser alvo de sua admiração.

Na banda, eu queria tocar trombone de vara. Não sei de onde tinha tirado a idéia e, na verdade, eu nem sabia que instrumento era aquele. O responsável não gostou da minha escolha e sugeriu que eu escolhesse outro instrumento, porque eu não tinha nem tamanho para carregar o tal (fato que, de resto, ainda permanece verdadeiro), quanto mais tocá-lo. No fim, acabou que nem participei mais da banda.

Às vezes íamos à São Paulo participar de algum evento e, daquelas antigas grandes reuniões no Palácio Mauá, recordo de pouca coisa. Mas, algo que ficou marcado na minha lembrança foi a visão daqueles rapazes de branco, que me impressionavam pela postura e mobilidade. Era o pessoal do Gajokai (à época o grupo Sokahan ainda não existia). E eu também quis ser um deles.

Aos 15 anos fui nomeado para a primeira função, a de responsável de unidade, função que nem existe mais. Ao longo de 27 anos de atividades na Divisão Masculina de Jovens, a DMJ, foram centenas de viagens, outro tanto de visitas, diálogos, encontros, reuniões, preparativos. Incontáveis desafios vividos com pessoas extremamente competentes, comprometidas, leais, empreendedoras. Não é para qualquer um e, evidentemente, sempre me senti especialmente honrado pelo privilégio de compartilhar com eles muitas conquistas, as quais não é possível enumerar.

Cada realização teve sua importância, sua dinâmica e sua poética. Mas, dentre tantas, há aquelas que, acredito, foram grandes marcos definidores e afirmadores: a inauguração da 1ª Sede Regional, em julho de 1985, na rua Paraíso; a 1ª apresentação das bandas juvenis em um evento externo, na cidade de Monte Alto; o 1° desfile nas ruas de Ribeirão Preto; o Show Musical no Teatro de Arena em 1994; a visita-atividade de 1.000 pessoas ao Centro Cultural Campestre da BSGI; a “volta para casa” na comemoração dos 35 anos da BSGI Ribeirão Preto em Mombuca; a Exposição de Desenhos das Crianças do Brasil e do Mundo no Novo Shopping em março de 2000; a construção e inauguração do Centro Cultural, no final de 2001.

Alguns estão ativos na DMJ ainda, outros já se formaram da divisão. Mas a história deixada é longa e definitiva. O grande legado daquele grupo de pessoas foi, certamente, a criação, o desenvolvimento, o fortalecimento e a consolidação dos chamados grupos horizontais, e o estabelecimento de procedimentos e de uma forma de atuação que se tornou o diferencial, a marca característica e a grande força de realização da BSGI de Ribeirão Preto. Enquanto estiverem bem, não há com que se preocupar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hoje pensei em você, como me influenciou, como foi importante pra mim...como é importante pra mim. Com você aprendi muito sobre o budismo, sobre a importância das atitudes, sobre fazer a escolha certa. Boa sorte a minha ter um amigo tão sábio, generoso e corajoso. Boa sorte a RM de Ribeirão ter um Tadashi. Fique sempre perto! Saudades de você e da Bia (minha querida amiga). Beijos